Virtudes Católicas
A Sede de Almas - V
Contemplação de uma natureza espiritual
Examinamos juntos a forma desordenada e ordenada de contemplar a natureza. Deixe-me passar da matéria natural – afinal a contemplação do Reno é apenas matéria – para estudar a contemplação de uma natureza espiritual.
Este tópico me leva a reconhecer que, por mais bela que seja a natureza, todas as suas belezas são muito menos belas do que a alma humana. E a alma humana, isto é, um homem capaz de pensar e desejar e de se posicionar corretamente diante das coisas, vale incomparavelmente mais do que as coisas materiais diante das quais ele se posiciona.
Ou seja, Wagner – que, aliás, eu censuro – vale mais que todo o rio Reno. Que exista uma criatura capaz de interpretar o Reno, analisá-lo e formar um julgamento e um ato de vontade sobre ele, é mais elevado e mais belo do que o próprio rio.
Eu precisaria ter a ideia do valor de cada alma para ter a noção exata do valor do Universo. Enquanto faço considerações sobre um pedaço de grama ou uma flor silvestre, ou mergulho em pensamentos profundos sobre uma majestosa cachoeira ou sobre os pinheiros bálticos, permaneço em um nível inferior. Pois, por mais elevadas que sejam essas meditações inspiradas por toda essa beleza, a alma humana vale mais do que todas elas. Se não sou capaz de perceber a beleza espiritual acima da beleza material, nada entendo da Criação.
Tenho a impressão de que essa é uma das noções que o homem contemporâneo não entende bem. Ele não entende a beleza de uma alma, a grande beleza de cada alma, a alma do menor mendigo que você encontra na rua bêbado.
Eu costumava observar alguns mendigos na rua Martim Francisco porque percebia neles, apesar de sua extrema miséria, um brilho no fundo de seus olhos. E aquela centelha humana, enterrada na lama e na sujeira, era um elemento digno de atenção especial. Em cada alma humana ela existe, em cada alma onde quer que esteja, desfigurada pelo pecado original, pelos pecados atuais, cada uma tem pelo menos uma beleza potencial, que é própria dessa alma e que devemos compreender.
Ora, tenho a impressão de que esta ideia da beleza das almas é algo para o qual a nossa educação não nos prepara. Não nos prepara na nossa formação, no nosso modo de ser e por isso passamos tempo juntos com os outros sem saber vê-los ou entendê-los. Não sabemos ter por eles sentimentos de afinidade nem de heterogeneidade, mas apenas irritações, fobias e simpatias.
Mesmo num bêbado, uma pessoa pela qual podemos sentir repulsa, na medida em que essa alma não se condenou ao Inferno, existe algo nele que pode ser buscado pela graça, visitado pela graça, algo nele que ainda pode vir a ser bom. E devemos perceber nessa alma, mesmo quando carrega todas as falhas possíveis, o que seria se fosse bom.
E então, percebendo a alma humana em sua ordem e esplendor, por uma espécie de reconstituição quase arqueológica, podemos fazer uma censura ainda maior ao homem porque vemos o que o bêbado está fazendo para se destruir completamente. Mas, ao mesmo tempo, entendemos o que ele poderia ser.
Direi mais: creio que foi este tipo de consideração que levou Nossa Senhora a ter paciência com os Apóstolos infiéis quando os viu assumir aquela posição verdadeiramente desprezível após a Ceia Eucarística. Como ela continuou a amá-los? Um dos elementos desse amor era sua consideração pelo bem potencial neles e o conhecimento de que seriam transformados em homens santos confirmados na graça, após a vinda do Espírito Santo no Pentecostes.
A autêntica sede de almas
Se você tem uma ideia da beleza das almas como valendo mais do que as coisas materiais, mais do que todo o Reno, você se eleva a Deus ao considerar as almas. É algo óbvio. E por uma questão de afinidade, que tem suas raízes na própria metafísica, aquilo que toca seres da mesma natureza toca também cada um de nós – não por egoísmo, mas por conaturalidade, que é outra coisa.
Um exemplo do contrário pode ser encontrado no seguinte caso, que realmente aconteceu: Uma senhora de quase 80 anos foi pedir para receber a Comunhão em uma Igreja. Ela não tinha automóvel e precisava pegar um ônibus ou um táxi. Quando ela falou com o padre, este respondeu: "Não, não posso lhe dar a Comunhão. O Tabernáculo foi fechado há 10 minutos."
O primeiro pensamento que vem à mente é que aqui está uma senhora em uma idade em que pode morrer. Quem sabe se esta Comunhão não será a última da sua vida? É um pensamento que deve mover qualquer alma, principalmente a alma de um padre.
Mas, há mais. O padre deve olhar para aquela alma e pensar o seguinte: “Eu, que sei o valor da união de uma alma com Deus, a felicidade que Deus tem nisso, e o grande bem que há nesta alma recebendo Deus. Eu não me importo. Olhando para esta alma, vendo o benefício concreto que ela pode ter ao receber o Santíssimo Sacramento, estou indiferente se ela recebe este aumento de virtude. Porque não significa nada para mim que esta alma possa melhorar. Eu sou apenas pensando nas regras da minha igreja, que vou cumprir para minha conveniência. Eu sou preguiçoso.
O padre estava na sacristia; bastava-lhe entrar na capela do Santíssimo e abrir a porta do Tabernáculo. Ele estava com preguiça de dar aqueles 10 ou 15 passos, abrir o Tabernáculo e dar a ela a Santa Comunhão. Para ele, poupar-se desse esforço valia mais do que o aumento de luz, beleza e graça que essa alma poderia receber.
Ele é um padre que não tem nenhum sensus animarum (sentido das almas). A conta que ele terá que dar a Deus por ser assim, ser batizado e a fortiori ser padre, é horrível de imaginar. Devemos nos surpreender que, quando chega a hora de dar conselhos, ele não tenha nenhuma preocupação real? Não estou nada surpreso, é bastante natural: ele não entendeu nada sobre o que é uma autêntica sede de almas.
No próximo artigo, examinarei a sede de almas e os apóstolos dos últimos tempos.
Continua
Este tópico me leva a reconhecer que, por mais bela que seja a natureza, todas as suas belezas são muito menos belas do que a alma humana. E a alma humana, isto é, um homem capaz de pensar e desejar e de se posicionar corretamente diante das coisas, vale incomparavelmente mais do que as coisas materiais diante das quais ele se posiciona.
Até a cachoeira mais magnífica empalidece diante do valor da alma humana que a contempla
Eu precisaria ter a ideia do valor de cada alma para ter a noção exata do valor do Universo. Enquanto faço considerações sobre um pedaço de grama ou uma flor silvestre, ou mergulho em pensamentos profundos sobre uma majestosa cachoeira ou sobre os pinheiros bálticos, permaneço em um nível inferior. Pois, por mais elevadas que sejam essas meditações inspiradas por toda essa beleza, a alma humana vale mais do que todas elas. Se não sou capaz de perceber a beleza espiritual acima da beleza material, nada entendo da Criação.
Tenho a impressão de que essa é uma das noções que o homem contemporâneo não entende bem. Ele não entende a beleza de uma alma, a grande beleza de cada alma, a alma do menor mendigo que você encontra na rua bêbado.
Eu costumava observar alguns mendigos na rua Martim Francisco porque percebia neles, apesar de sua extrema miséria, um brilho no fundo de seus olhos. E aquela centelha humana, enterrada na lama e na sujeira, era um elemento digno de atenção especial. Em cada alma humana ela existe, em cada alma onde quer que esteja, desfigurada pelo pecado original, pelos pecados atuais, cada uma tem pelo menos uma beleza potencial, que é própria dessa alma e que devemos compreender.
Ora, tenho a impressão de que esta ideia da beleza das almas é algo para o qual a nossa educação não nos prepara. Não nos prepara na nossa formação, no nosso modo de ser e por isso passamos tempo juntos com os outros sem saber vê-los ou entendê-los. Não sabemos ter por eles sentimentos de afinidade nem de heterogeneidade, mas apenas irritações, fobias e simpatias.
O pobre bêbado ainda tem uma centelha que convida
a graça a agir em sua alma
E então, percebendo a alma humana em sua ordem e esplendor, por uma espécie de reconstituição quase arqueológica, podemos fazer uma censura ainda maior ao homem porque vemos o que o bêbado está fazendo para se destruir completamente. Mas, ao mesmo tempo, entendemos o que ele poderia ser.
Direi mais: creio que foi este tipo de consideração que levou Nossa Senhora a ter paciência com os Apóstolos infiéis quando os viu assumir aquela posição verdadeiramente desprezível após a Ceia Eucarística. Como ela continuou a amá-los? Um dos elementos desse amor era sua consideração pelo bem potencial neles e o conhecimento de que seriam transformados em homens santos confirmados na graça, após a vinda do Espírito Santo no Pentecostes.
A autêntica sede de almas
Se você tem uma ideia da beleza das almas como valendo mais do que as coisas materiais, mais do que todo o Reno, você se eleva a Deus ao considerar as almas. É algo óbvio. E por uma questão de afinidade, que tem suas raízes na própria metafísica, aquilo que toca seres da mesma natureza toca também cada um de nós – não por egoísmo, mas por conaturalidade, que é outra coisa.
Um exemplo do contrário pode ser encontrado no seguinte caso, que realmente aconteceu: Uma senhora de quase 80 anos foi pedir para receber a Comunhão em uma Igreja. Ela não tinha automóvel e precisava pegar um ônibus ou um táxi. Quando ela falou com o padre, este respondeu: "Não, não posso lhe dar a Comunhão. O Tabernáculo foi fechado há 10 minutos."
Um padre leva a Santa Eucarística a um moribundo, apesar dos inconvenientes
Mas, há mais. O padre deve olhar para aquela alma e pensar o seguinte: “Eu, que sei o valor da união de uma alma com Deus, a felicidade que Deus tem nisso, e o grande bem que há nesta alma recebendo Deus. Eu não me importo. Olhando para esta alma, vendo o benefício concreto que ela pode ter ao receber o Santíssimo Sacramento, estou indiferente se ela recebe este aumento de virtude. Porque não significa nada para mim que esta alma possa melhorar. Eu sou apenas pensando nas regras da minha igreja, que vou cumprir para minha conveniência. Eu sou preguiçoso.
O padre estava na sacristia; bastava-lhe entrar na capela do Santíssimo e abrir a porta do Tabernáculo. Ele estava com preguiça de dar aqueles 10 ou 15 passos, abrir o Tabernáculo e dar a ela a Santa Comunhão. Para ele, poupar-se desse esforço valia mais do que o aumento de luz, beleza e graça que essa alma poderia receber.
Ele é um padre que não tem nenhum sensus animarum (sentido das almas). A conta que ele terá que dar a Deus por ser assim, ser batizado e a fortiori ser padre, é horrível de imaginar. Devemos nos surpreender que, quando chega a hora de dar conselhos, ele não tenha nenhuma preocupação real? Não estou nada surpreso, é bastante natural: ele não entendeu nada sobre o que é uma autêntica sede de almas.
No próximo artigo, examinarei a sede de almas e os apóstolos dos últimos tempos.
Continua
Postado em 14 de agosto de 2023