Virtudes Católicas
A Sede de Almas - IV
Maneira desordenada e ordenada de
contemplar a natureza
No último artigo examinei os tipos de afeto romântico em relação à sede de almas que um católico deve conhecer. Agora, tratarei do sobrenatural e do metafísico em relação ao que se pode chamar propriamente de sede de almas. Primeiro deixe-me olhar para o lado metafísico e para a razão natural, antes de passar para os fatos da Revelação.
A contemplação da natureza
Tomando aquele exemplo do alemão que gosta de meditar sobre temas metafísicos enquanto contempla o Reno, pergunto: é censurável para um homem meditar sobre o Reno que corre silenciosamente na noite? Meditar naqueles mistérios, no que pode simbolizar um rio profuso e profundo que, mesmo sem que ninguém o veja, corre na escuridão da noite? Inequivocamente, eu aplaudo fazer isso. Acho que essa é uma maneira elevada e nobre de ver as coisas.
E o alemão que se coloca às margens do Báltico – e aqui entra em um dos lados que gosto da cultura alemã – e contempla aqueles pinheiros nativos da região costeira, descendo fundo na água que ferve gelada perto de algumas rochas e em o silêncio vazio da natureza.
Ou quando entra nas tempestades de Beethoven ou, sobretudo, nas de Wagner, que tem um nível superior, senão como músico, pelo menos como "pensador." Ou quando ele fica extasiado com a poesia da hecatombe com seus finais wagnerianos e trágicos? Não são essas formas elevadas de ver as coisas?
O pressuposto dessa forma de ver é que todas as coisas naturais são símbolos de caráter metafísico superior. E que, portanto, no Reno que corre à noite, observa-se uma ordem natural, autêntica das coisas, válida e independente dos julgamentos que os homens possam fazer sobre ela. Observa-se que o Reno não existiria assim se não houvesse um Espectador (com E maiúsculo) que o visse; se não houvesse um Autor que o tivesse feito. É óbvio, aquele de quem falo é Deus.
Mas, dentro dessa posição metafísica ou wagneriana – como se poderia chamá-la – o homem pode assumir uma posição ordenada ou desordenada, como em relação a qualquer coisa. Diante de qualquer coisa, há uma ordem e uma desordem. E assim, pergunto: qual é a posição ordenada e qual é a desordenada?
A posição desordenada
A posição desordenada consistiria em dizer: "Captei o mistério deste Reno que corre na noite. Percebi o mistério daqueles pinheiros e sua beleza. Como se sente grande a minha alma ao contemplar este mistério! Como me elevo e me expando, entrando cada vez mais fundo nesta meditação; que delicadeza superior isso é para o meu espírito! E como estou extasiado com a grandeza que adquiri fazendo isso! Como estou inebriado com esta grandeza; como fiquei radiante com a grandeza que eu, eu mesmo adquiri!
É uma postura que leva o homem a fechar-se em si mesmo, em vez de se abrir, nem mesmo aos seus discípulos. Em vez disso, ele pensa o seguinte:
"Ai, não posso te comunicar o oceano que carrego dentro de mim. Eu vi, eu sei, e dentro do meu espírito moram esses valores que você, farto de vir do restaurante, não tem. E enquanto a orquestra toca Wagner, eu olho para todos com pena, porque só eu entendo. Em minha alma há um santuário interior onde vibram esses valores. E neste santuário há um ídolo, e esse ídolo se chama 'eu'. Eu me adoro, tendo capturado tudo isso."
Esta é a posição fundamentalmente desordenada.
Esta posição não gera sede de almas, nem desperta sede de Deus. Eu desço para dentro de mim. Eu bebo de mim mesmo – é uma coisa monstruosa, mas eu me alimento de mim mesmo. É como uma pessoa que começou a comer os próprios dedos, os próprios braços. "Não preciso de mais nada, nada de ninguém, o fim último da minha meditação sou eu mesmo. Meu ídolo, diante de quem vivo e para quem vivo, sou eu mesmo, que me entendo e me enriqueço com essas coisas." Esta é a posição ruim, a posição errada.
A posição ordenada
Qual é a posição ordenada? É aquela que dá origem à abnegação. Diante do Reno que corre na noite e desse mistério do Reno e sua grandeza que se apresenta diante de mim, eu deveria ter um primeiro movimento de amor desinteressado. Ou seja, como se sabe, tem verdadeira veneração:
"Que coisa enorme! Atrás de um rio tão grandioso, está o verdadeiro Deus, do qual este é apenas um símbolo, uma manifestação insuficiente e contingente, como todo símbolo e toda manifestação! A realidade que esse rio reflete existe em Deus, mas de uma forma incriada e de uma forma que não consigo imaginar! Como adoro a Deus que é assim!
Por outro lado, devo também ter ternura: não é só admiração e respeito, mas também ternura:
"Como Ele é superior a mim! Como é bom amar Alguém tão superior a mim, que me ajuda a sair da meu próprio pântano, minha própria miséria, minha contingência, para amar desinteressadamente. E por quê? Porque Ele é Ele, sem mais nada, sem nenhuma outra consideração.” Esta é a posição verdadeira e desinteressada.
Certamente, nesta posição desinteressada, encontro toda a satisfação que minha alma precisa. Encontro a afinidade divina comigo mesmo, encontro ao mesmo tempo a dissimilaridade divina comigo mesmo e, assim, minha alma encontra um repouso completo nesta contemplação. Mas se, por algum absurdo, eu não encontrasse ali um repouso completo, eu ainda o amaria, porque Ele é Ele, e Ele é assim. E eu o adoraria e o respeitaria, porque Ele é Ele.
É uma posição em que não sou o fim último, mas Ele é. O movimento não é um movimento em que me fecho no meu egoísmo, mas um movimento em que me entrego a Deus como uma homenagem pelo que Ele é. É verdade que me beneficio desse movimento, mas não é esse o motivo do meu movimento. A razão é me entregar, desinteressadamente.
Isso é o que é um holocausto, propriamente falando. É menos dar a minha vida do que dar todo o meu ser, a minha alma, o meu amor, a minha inteligência como uma homenagem porque Ele merece. Esta é a posição própria da alma e aquela que desperta nela a sede de Deus.
Observações
Resta-me mostrar como esta posição provoca, paralelamente, a sede de almas. A sede de Deus é algo tão conhecido que, diga-se de passagem, basta uma observação.
Creio que não é muito comum termos meditações como esta, começando por mostrar Deus como admirável para mostrá-lo como amável, pois de fato não se ama inteiramente a não ser quando se admira plenamente alguma coisa.
O primeiro elemento do amor é a admiração. O Mandamento de “amar a Deus sobre todas as coisas” inclui admirar a Deus sobre todas as coisas e reconhecer as sublimidades e excelências de Deus além e no fim de todas as sublimidades e excelências que podem ser consideradas. Nesse sentido, a natureza é, de fato, uma fonte inesgotável para essa contemplação. A natureza foi feita para meditarmos, e devemos realmente fazer isso.
Continua
A contemplação da natureza
Tomando aquele exemplo do alemão que gosta de meditar sobre temas metafísicos enquanto contempla o Reno, pergunto: é censurável para um homem meditar sobre o Reno que corre silenciosamente na noite? Meditar naqueles mistérios, no que pode simbolizar um rio profuso e profundo que, mesmo sem que ninguém o veja, corre na escuridão da noite? Inequivocamente, eu aplaudo fazer isso. Acho que essa é uma maneira elevada e nobre de ver as coisas.
O mistério do Reno à noite; de dia, uma surpresa a cada curva
Ou quando entra nas tempestades de Beethoven ou, sobretudo, nas de Wagner, que tem um nível superior, senão como músico, pelo menos como "pensador." Ou quando ele fica extasiado com a poesia da hecatombe com seus finais wagnerianos e trágicos? Não são essas formas elevadas de ver as coisas?
O pressuposto dessa forma de ver é que todas as coisas naturais são símbolos de caráter metafísico superior. E que, portanto, no Reno que corre à noite, observa-se uma ordem natural, autêntica das coisas, válida e independente dos julgamentos que os homens possam fazer sobre ela. Observa-se que o Reno não existiria assim se não houvesse um Espectador (com E maiúsculo) que o visse; se não houvesse um Autor que o tivesse feito. É óbvio, aquele de quem falo é Deus.
Mas, dentro dessa posição metafísica ou wagneriana – como se poderia chamá-la – o homem pode assumir uma posição ordenada ou desordenada, como em relação a qualquer coisa. Diante de qualquer coisa, há uma ordem e uma desordem. E assim, pergunto: qual é a posição ordenada e qual é a desordenada?
A posição desordenada
A posição desordenada consistiria em dizer: "Captei o mistério deste Reno que corre na noite. Percebi o mistério daqueles pinheiros e sua beleza. Como se sente grande a minha alma ao contemplar este mistério! Como me elevo e me expando, entrando cada vez mais fundo nesta meditação; que delicadeza superior isso é para o meu espírito! E como estou extasiado com a grandeza que adquiri fazendo isso! Como estou inebriado com esta grandeza; como fiquei radiante com a grandeza que eu, eu mesmo adquiri!
O sinuoso Rio Reno
O fim último da meditação não é o Reno, nem é Deus que criou o Reno, que é o Espectador Divino diante de quem o Reno corre, mas sou eu, na medida em que assimilei alguma grandeza da minha meditação. Aqui está a posição egoísta e desordenada.
É uma postura que leva o homem a fechar-se em si mesmo, em vez de se abrir, nem mesmo aos seus discípulos. Em vez disso, ele pensa o seguinte:
"Ai, não posso te comunicar o oceano que carrego dentro de mim. Eu vi, eu sei, e dentro do meu espírito moram esses valores que você, farto de vir do restaurante, não tem. E enquanto a orquestra toca Wagner, eu olho para todos com pena, porque só eu entendo. Em minha alma há um santuário interior onde vibram esses valores. E neste santuário há um ídolo, e esse ídolo se chama 'eu'. Eu me adoro, tendo capturado tudo isso."
Esta é a posição fundamentalmente desordenada.
Esta posição não gera sede de almas, nem desperta sede de Deus. Eu desço para dentro de mim. Eu bebo de mim mesmo – é uma coisa monstruosa, mas eu me alimento de mim mesmo. É como uma pessoa que começou a comer os próprios dedos, os próprios braços. "Não preciso de mais nada, nada de ninguém, o fim último da minha meditação sou eu mesmo. Meu ídolo, diante de quem vivo e para quem vivo, sou eu mesmo, que me entendo e me enriqueço com essas coisas." Esta é a posição ruim, a posição errada.
A posição ordenada
Qual é a posição ordenada? É aquela que dá origem à abnegação. Diante do Reno que corre na noite e desse mistério do Reno e sua grandeza que se apresenta diante de mim, eu deveria ter um primeiro movimento de amor desinteressado. Ou seja, como se sabe, tem verdadeira veneração:
Uma posição ordenada da alma leva a contemplar e admirar o Criador da natureza
Por outro lado, devo também ter ternura: não é só admiração e respeito, mas também ternura:
"Como Ele é superior a mim! Como é bom amar Alguém tão superior a mim, que me ajuda a sair da meu próprio pântano, minha própria miséria, minha contingência, para amar desinteressadamente. E por quê? Porque Ele é Ele, sem mais nada, sem nenhuma outra consideração.” Esta é a posição verdadeira e desinteressada.
Certamente, nesta posição desinteressada, encontro toda a satisfação que minha alma precisa. Encontro a afinidade divina comigo mesmo, encontro ao mesmo tempo a dissimilaridade divina comigo mesmo e, assim, minha alma encontra um repouso completo nesta contemplação. Mas se, por algum absurdo, eu não encontrasse ali um repouso completo, eu ainda o amaria, porque Ele é Ele, e Ele é assim. E eu o adoraria e o respeitaria, porque Ele é Ele.
É uma posição em que não sou o fim último, mas Ele é. O movimento não é um movimento em que me fecho no meu egoísmo, mas um movimento em que me entrego a Deus como uma homenagem pelo que Ele é. É verdade que me beneficio desse movimento, mas não é esse o motivo do meu movimento. A razão é me entregar, desinteressadamente.
Isso é o que é um holocausto, propriamente falando. É menos dar a minha vida do que dar todo o meu ser, a minha alma, o meu amor, a minha inteligência como uma homenagem porque Ele merece. Esta é a posição própria da alma e aquela que desperta nela a sede de Deus.
Observações
Pinheiros na costa do mar Báltico
Creio que não é muito comum termos meditações como esta, começando por mostrar Deus como admirável para mostrá-lo como amável, pois de fato não se ama inteiramente a não ser quando se admira plenamente alguma coisa.
O primeiro elemento do amor é a admiração. O Mandamento de “amar a Deus sobre todas as coisas” inclui admirar a Deus sobre todas as coisas e reconhecer as sublimidades e excelências de Deus além e no fim de todas as sublimidades e excelências que podem ser consideradas. Nesse sentido, a natureza é, de fato, uma fonte inesgotável para essa contemplação. A natureza foi feita para meditarmos, e devemos realmente fazer isso.
Continua
Postado em 7 de agosto de 2023