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A Sede de Almas - III

Diferentes tipos de afeto romântico

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
No primeiro artigo desta série observei que existem dois tipos de almas: as que têm sede de almas e as que têm sede de vantagens. Estes últimos, propriamente falando, não têm sede de almas, pois seu propósito de se relacionar com os outros é, em um grau ou outro, utilitário.

No segundo artigo, debrucei-me sobre os diferentes tipos de pessoas que têm necessidade de vantagens meramente materiais nas suas relações com os outros.

Aqui veremos o tipo romântico: a necessidade romântica de uma alma por outra.

Como é o tipo romântico?

O romântico latino

Bohemian life

Algumas pessoas entram na vida boêmia em busca de amizade

Ele sente a necessidade de um contato de alma com os outros para se completar ou para sentir afinidade com os outros. Nesse ponto, o romântico – sobretudo o latino – não se contenta com pensamentos metafísicos, mas busca a amizade. Muitas vezes ele busca uma vida boêmia, mas ainda é um utilitarista. Ou seja, ele está procurando alguma vantagem pessoal.

O romântico alemão

Quando vemos como é a forma romântica de pensar a amizade – o país que mais romantizou a amizade foi a Alemanha – vemos o prazer da afinidade.

Por exemplo, aquelas marchas em colunas retas de alemães que caminham em direção à morte, fazendo a "paradenmarch" (marcha como para um desfile) enquanto a metralhadora os dizima enquanto eles continuam caminhando. Morrem numa espécie de embriaguez de se sentirem juntos. Unidos, eles caminham para a morte, e assim superam, até o extremo, o abismo que separa uma alma da outra. Isso, para eles, é amizade.

Uma cena característica – para um brasileiro, é incompreensível – é a de dois alemães bebendo cerveja. Eles conversam sobre algum assunto – um negócio ou uma música favorita – e eles concordam sobre a música ou um partido político ou um ponto filosófico.

germans toasting

Alemães brindam quando chegam a uma conclusão intelectual

Os dois elaboram, expondo ainda mais sobre o assunto. Quando chegam a alguma conclusão e entram em acordo, levantam suas cervejas, batem as canecas e bebem. Então, eles ficam quietos por um tempo, desfrutando da sublimidade do momento a que chegaram. É a delícia de sentir a semelhança entre um e outro.

O curioso é que o alemão busca a semelhança em outro homem e a dessemelhança em uma mulher. É algo que o latino não entende: por que um homem se sobrecarregaria com uma mulher diferente? O que poderia ser mais irritante do que isso? As escrituras dizem que uma esposa briguenta é como o gotejar de um telhado em dia de chuva (Provérbios 27,15). Entre os brasileiros raramente vi um homem que procurasse uma mulher diferente.

Mas, para o alemão, não. A mulher não precisa ser bonita: isso é secundário. Lorelei era bela porque tinha todas as qualidades. Mas, para o alemão, o que é bonito é uma mulher que é, entre outras coisas, jocosa, divertida.

Conheci um bar alemão onde havia uma alemã enorme, dançando e posando como se fosse uma borboleta negra. Os alemães que frequentavam o lugar acharam isso muito charmoso. Muitos dos presentes, não alemães, riam, cínica e zombeteiramente, de tudo. Eles estavam rindo do espírito alemão; foi uma zombaria ruim porque, no fundo, eles estavam rindo da seriedade.

Duke of Windsor with Simpson

O príncipe de Gales ficou encantado com a desafiadora Simpson

Além disso, a mulher deve saber coisas surpreendentes e sempre novas para dizer ao homem, para estimulá-lo a novos pensamentos, por meio da oposição. Há damas inglesas que também têm essa tendência.

Lembro-me de ter lido nas Memórias do Príncipe de Gales [o futuro Eduardo VIII] a história de como ele conheceu Wallis Simpson. Apresentaram Simpson a ele e ele começou uma conversa sobre hotéis, dizendo que os da Inglaterra não eram tão bons quanto os da América, de onde ela vinha.

Então, ela deu uma risada espirituosa e disse: "Não pensei que alguém pudesse falar com o Príncipe de Gales sobre tal banalidade."

Ele foi subjugado. Foi uma provocação inesperada: algo que ele não imaginava que começou a brincar com ele. Então o 'homem forte' ficou extasiado com a libélula.

Os Buissonnets

Onde se sente um tipo muito elevado de convivium de alma, no ambiente de Romantismo mas sem os defeitos, do Romantismo, é nos Les Buissonnets de Santa Teresinha do Menino Jesus.

The Buissonets

Os Buissonets onde Santa Teresinha passou a infância

Quando se visita Les Buissonnets, a casa da família Martin, sente-se aquele ambiente de A história de uma alma. Percebe-se que Monsieur Martin, com sua gravidade, sua respeitabilidade, seu espírito sobrenatural, era literalmente o centro da vida dos Buissonnets, e que suas filhas por muito tempo viveram da substância espiritual de Monsieur Martin, gravitando em torno de sua alma e recebendo o calor de seu espírito.

É uma coisa curiosa, mas, para mim, os Buissonnets falam menos de Santa Teresa diretamente e mais do que ela viu em Monsieur Martin. A presença forte ali é a do Monsieur Martin, o que é bastante compreensível, já que ele era o dono da casa.

O que se apresentava com notas religiosas na família de Santa Teresinha se apresentava com notas de puro afeto humano na família romântica. De qualquer forma, esse desejo de amar e cuidar, que satisfaz uma necessidade da alma, entrou dessa maneira.

No próximo artigo veremos o tipo metafísico.

Continua

Postado em 8 de maio de 2023