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Caminhos Verdadeiros e Falsos para a Felicidade - XVIII

A Busca pelo Significado Profundo
das Coisas

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
Como um homem ascende a Deus nesta vida? Esta é uma grande questão.

Deus criou o universo de acordo com um plano, no qual cada ser tem seu próprio significado – pode-se dizer sua própria mensagem – que aponta para Ele.

Assim, tudo no universo tem um significado profundo. E esse sentido profundo de cada coisa nos leva ao ponto mais alto. Se buscarmos os fios finais em cada coisa que lhe dá sentido, encontraremos a verdadeira profundidade de cada ser.

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Natureza morta com frutas, conchas e insetos, década de 1620, de Balthasar van der Ast

É isso que o artista faz. Ele pega o significado de certas coisas e o representa em uma obra de arte, acentuando um pouco certas características para mostrar não apenas seus aspectos mais profundos, mas também o que está escondido lá dentro.

Por exemplo, vamos olhar para uma natureza morta, digamos uma cesta de frutas com uma jarra atrás dela. No dia-a-dia costuma ser algo banal que mal prestamos atenção. Mas o verdadeiro artista capta o significado de cada laranja e de cada maçã naquela cesta, e depois do pote, e dá relevância a isso de maneira sugestiva.

Podemos não ter talento artístico para fazer o mesmo, mas isso não nos impede de penetrar mentalmente no significado de todas essas belas imagens que Deus expõe neste livro que é o universo.

Vamos dar outro exemplo com música. Algo censurável em certos cantores é o fato de se prenderem a exercícios de puro virtuosismo e exibição, e não se preocuparem com o sentido sério, moral, divino do que fazem.

tiara

Como reduzir a beleza dos diamantes da Tiara Poltimore a uma fórmula química?

E assim é em todas as coisas.

Lembro-me da confusão que senti nas minhas primeiras aulas de química. O professor – na verdade, um ateu, que gostava de se apresentar como tal – afirmava: “Uma esmeralda nada mais é do que xyz,” a fórmula química matemática da pedra; acrescentando que este era o conhecimento mais profundo que se poderia ter de uma esmeralda.

Fiquei ali pensando. Olhei para meus colegas e eles pareciam absolutamente normais, como se o professor tivesse acabado de dizer que um inseto estava voando lá fora. Como isso poderia ser? Um homem afirma que uma esmeralda se reduz a isso, e que essa fórmula é o aspecto mais importante da esmeralda, e ele chama isso de conhecimento profundo!

Ora, o sentido mais profundo das coisas não é alcançado triturando-as em fórmulas numéricas, mas analisando-as. E analisá-los significa procurar algo que não seja o aspecto prático. Esta análise é algo que os homens que amam a vida prática e terrena chamariam inútil, mas que de fato constitui o sentido da vida e prepara a alma para o Céu.

Encontrando princípios eternos em seres e situações

Pode-se dizer também que o significado de uma coisa, quando se torna conhecida, é a luz da coisa. Essa luz é percebida de forma puramente analítica – isto é, por uma análise racional do que ela é – ou de forma simbólica.

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Uma fria fábrica de produção em massa de peças de automóveis; abaixo, a Catedral de Colônia, tudo aponta para Deus

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Enquanto o mundo greco-romano se esforçou para enriquecer com significado os poucos objetos à sua disposição, o tipo industrial moderno de sociedade se esforça para melhorar a tecnologia para construir cada vez mais objetos. Assim, houve um declínio no terreno dos significados.

As catedrais medievais, ao contrário, eram verdadeiras obras-primas do simbolismo: tudo nelas tem significado simbólico. Como observa o historiador Émile Mâle em sua obra The Gothic Image: “Tudo nesta arte [medieval] fala através de símbolos. Ela nos mostra uma coisa e nos convida a ver outra coisa lá.” (1)

Étienne Gilson chega a dizer: “Para um pensador da época, conhecer ou explicar algo consistia sempre em mostrar que não é o que parece ser, que é símbolo e signo de uma realidade mais profunda, que ele anuncia ou significa outra coisa.” (2)

Uma vez foi dito apropriadamente de Winston Churchill que seu universo é composto de unidades simples que são maiores que a vida. Seus temas são repetitivos como os de um poeta épico ou, às vezes, como as de um taumaturgo que vê nos seres e situações símbolos fora do tempo e encarnações de princípios eternos e brilhantes.

Essa observação é muito profunda. É, de fato, maravilhoso ver “nos seres e situações” símbolos de “princípios eternos e brilhantes!” A sociedade atual tende a insinuar que tais pessoas são sonhadoras, homens inúteis, fora da realidade. Pelo contrário, Churchill era um homem de grande visão, um homem operante no mais alto grau.

No fundo, como personalidade, foi ele quem venceu a Segunda Guerra Mundial. Um homem completamente prático, um realizador, um lutador, um homem de ação, mas também aquele que levou toda a sua vida tendo diante de si, como ideal, “símbolos fora do tempo.”

A verdadeira obra de arte refere-se a Deus

Dante diz que as obras de arte são “netas” de Deus. Pois, sendo a alma humana filha de Deus, o que o espírito humano engendra é o “neto” de Deus.

tournai rose window

A rosácea na Catedral
de Nossa Senhora em Tournai

O homem, criando “netos” de Deus – que é o que são as verdadeiras obras de arte – está se preparando para o momento em que aparecerá diante do Juiz eterno, da Verdade eterna e da Beleza eterna. Então ele vai voar com entusiasmo para Deus.

Edgar de Bruyne observa com razão: “Na estética de Hugo de São Victor, a beleza simbólica é a beleza fundamental. Toda forma tem um valor estético na medida em que, direta ou indiretamente, traz à mente o Infinito, o Perfeito, o Ideal.” (3)

Portanto, algo é belo não tanto porque é agradável, mas sobretudo porque se refere a Deus.

O belo é um símbolo do bem; a verdadeira beleza simboliza o bem; consequentemente, a verdadeira arte simboliza a moralidade, que é a conformidade das ações humanas com a ordem estabelecida por Deus.

ambience

Um ambiente deve nos convidar a encontrar
seu conteúdo simbólico

Continua

  1. Apud Painton Cowen, Roses Medievales, Paris: Seuil, 1979, p. 81.
  2. Ibid.
  3. Apud Marcel Aubert, Le Gothique à son Apogée, Paris: Ed. Albin Michel,1969, pp. 11-12.
  4. Études d’Esthétique Mediévale, Brugges (Belgium), De Tempel, 1946, vol. 2, p. 216.
Postado em 19 de setembro de 2022