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Virtudes Católicas
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Caminhos Verdadeiros e Falsos para a Felicidade - XV

Admirando o Superior e o Inferior

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
Alguém que nunca teve visões pode ser um contemplativo?

Sim, porque para ser contemplativo não é necessário experimentar fenômenos místicos ou deixar de ser um homem de ação.

A definição de Tanquerey, já mencionada, afirma que "em geral, contemplar é olhar um objeto com admiração." (cf. Compêndio de Teologia Ascética e Mística, Porto, 1961, parte II, chap. 1, item 2)

Nossa admiração deve ser constante e multiforme. Deve abranger uma ampla gama de temas: ambientes, costumes e civilizações; os grandes panoramas da história; questões teológicas, filosóficas ou sociológicas portentosas; movimentos de opinião pública; aspectos da psicologia humana; grandes personagens e, ao mesmo tempo, pessoas muito simples; obras de arte e as minúcias da natureza.

Somos, assim, levados de volta à pergunta: como se faz para contemplar o universo?

Isso pode ser feito de várias maneiras, pois uma imagem pode ser apreciada sob diferentes lentes. Descreverei neste e nos próximos artigos algumas das "janelas" através das quais o espírito humano pode contemplar os cumes da realidade, sem ter visões.

A primeira delas é a admiração.

Uma nota admirável em tudo que Deus fez

Admiração - a primeira etapa da contemplação sacral - é a capacidade de maravilhar-se, e maravilhar-se de forma humilde e desinteressada.

Rose

Graus de admiração: 1. Admiramos o que está à nossa frente, acima; 2. Referimos essa beleza a Deus, abaixo, a rosácea da Catedral de Notre Dame, Paris

Rose stainglass window at Notre Dame, Paris
Podemos dizer que a admiração é uma virtude muito Católica.

Por que Católica? É porque o Verbo de Deus Encarnado nos deu um exemplo disso.

Comecemos por observar que Deus colocou pelo menos uma nota de admiração em tudo que fez, sem exceção.

Consequentemente, a cada momento o homem pode encontrar algo para admirar. Se Deus colocou o admirável em tudo, é porque Ele quis incutir no homem, de todas as maneiras e formas, a convicção de que seu espírito deve se voltar para o mais alto, para algo que lhe suscita admiração, e que a luz de sua a vida é admirar coisas que são verdadeiramente admiráveis.

Se tudo o que Deus fez é admirável, Ele quer que vivamos em contínua admiração pelas coisas que Ele fez para admirá-Lo, pois Deus se reflete nessas coisas.

A admiração tem dois graus. Um grau é admirar o que a pessoa tem à sua frente. Outro grau é remeter essa coisa a Deus Nosso Senhor, para colocá-lo no ponto final de nossa admiração.

Deus é o autor daquilo que admiro, Ele não só tem essa qualidade de maneira infinita, mas, mais do que ter essa qualidade, Ele a é.

Imaginemos um filho que não conhece seu pai, mas sabe que ele é muito rico com a personalidade mais completa que se possa imaginar. O filho está preso. Um dia, ele recebe em sua cela livros sobre diversos assuntos escritos por seu pai. Logo depois lhe são enviadas obras de arte - pinturas e estátuas - que foram feitas por mãos de gênio e ele é informado de que aquelas peças também foram feitas por seu pai. Qual é a consequência? Admirando essas obras, passa a amar muito mais o pai e a entendê-lo melhor.

Admirar aqueles que estão acima e abaixo de nós

Isto é o que Deus fez conosco. Ele criou um universo magnífico para que possamos admirar os que estão acima e abaixo de nós.

O homem que tem espírito Católico tende a procurar em tudo coisas admiráveis e a fazer coisas admiráveis. Ele não tem inveja. Quando encontra alguém que é admirável, se alegra e dá graças a Deus por ter encontrado essa pessoa. Ele elogia e aplaude a pessoa e procura dar a conhecer as suas qualidades.

Ele não é igualitário; ele não tenta se colocar no mesmo nível dos outros, mas se esforça para fazer com que aqueles que são mais do que ele recebam mais glória e honra do que ele.

Mas ele não se contenta em admirar apenas aqueles que são superiores a ele. Também sabe tratar os inferiores com respeito e ternura, sem igualitarismo. Ele sabe ver uma figura de Deus nas menores pessoas e coisas e dar glória a Deus porque Deus quis se manifestar nelas.

Enrico Caruso

Enrico Caruso o grande cantor de opera do início do século 20

Considere o caso do muito famoso tenor italiano Enrico Caruso (1873-1921). Deus lhe deu uma voz magnífica. Devemos saber admirar este homem e ter prazer em ouvir sua voz. Pois, ao admirá-lo, admiro algo que me aproxima de Deus.

Sei que, embora Caruso seja mundialmente famoso, seria inferior a muitos outros homens por diferentes razões: um é mais lógico que Caruso, outro é mais atlético, outro escreve com maior facilidade etc. Quando ele vê um desses outros, Caruso deve admirá-lo, não porque seja maior do que ele, mas porque em algum ponto o outro tem algo mais do que ele. E assim todos devem admirar os outros nos pontos em que brilham.

O próprio Deus admira! Com admiração Ele disse: "Considerai os lírios do campo... eles não trabalham, nem fiam." (Mt 6,25) Quanto mais Ele amará o que o homem faz num élan de alma... e quem se volta para Ele porque, passando de maravilha em maravilha, no topo está o próprio Deus!

O exemplo de Nosso Senhor admirando as coisas, mesmo as menores, e amando-as com especial ternura, é uma lição que faz a alma prontamente se dirigir à admiração. O olhar de admiração de Deus, o olhar de admiração de Maria Santíssima, repousa também sobre os medíocres, sobre os sórdidos, e eles podem começar a ganhar vida nova, como as águas se moveram no tanque de Siloé.

Uma admiração que desce é simétrica à admiração que sobe. E assim se encerra a história de admiração.

Continua

Postado em 15 de agosto de 2022