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O surgimento saudável da Burguesia

Plinio Corrêa de Oliveira

Após o Ancien Regime, (Antigo Regime), um novo tipo de burguesia surgiu em muitos lugares, distinto da pequena burguesia comercial e industrial que existia anteriormente. Uma classe social de intelectuais começou a aparecer, com um papel correspondente a suas atividades acadêmicas. Exigia-se um estudo rigoroso, envolvendo tamanha disciplina e esforço que, mesmo sem a aura da glória militar, aqueles que vieram a compor essa classe tinham um mérito muito além do da burguesia comercial e industrial.

Por exemplo, um professor que apresentasse um argumento teológico brilhante que pudesse resolver uma questão religiosa complicada dentro de seu país teria um papel especial na direção da res publica [comunidade]. O caminho de um país passou a ser influenciado não apenas pelos militares, a nobreza feudal, mas também pelos intelectuais que, de maneiras diferentes, deram novos rumos à sociedade. Para fazer isso, o intelectual teve que fazer um grande esforço e revelar um espírito superior que transcendia o da burguesia normal, voltado apenas para seu próprio lucro comercial.

Esse papel constituiu uma nova forma de influência e direção exercida mais sobre a sociedade do que o Estado. Dava ao intelectual uma responsabilidade social que, de certa perspectiva, toca na da nobreza.

A noblesse de robe na França

Paris Parlement, noblesse de robe

Os membros do Parlamento de Paris usavam mantos vermelhos
Após a Idade Média e durante todo o Antigo Regime, os juízes e administradores na França constituíram uma classe chamada noblesse de robe, ou nobreza de traje, em referência aos mantos pretos que os juízes usavam.

Os membros do Parlamento de Paris, que tiveram um papel importante em muitos episódios da história Francesa, também eram membros da noblesse de robe e tiveram o privilégio de usar mantos vermelhos. Eles não estavam no mesmo nível que a noblesse d’epée [nobreza de espada] porque esta implicava o dever de derramar o sangue por um país, mas recebeu reconhecimento público por seus méritos intelectuais, políticos e morais.

A nobreza intelectual em Portugal

Na Espanha e Portugal, uma classe nobre de professores começou a subir. Não incluiu todos os professores, mas os mestres cujas atividades acadêmicas e fama alcançaram níveis muito expressivos. Eles se tornaram uma espécie de pequena nobreza.

Em Portugal, quando um indivíduo se formasse na Universidade de Coimbra, ele não recebia um título hereditário, mas um transitório, concedido pelos méritos pessoais do destinatário. Quando membros de uma família se formaram em Coimbra sem interrupção por três ou quatro gerações, o título se tornava hereditário. Isso é compreensível porque, ao longo de quatro gerações, uma família de acadêmicos teria adquirido uma certa maneira de ser que lhe daria um status de elite na sociedade.

Se esse processo orgânico continuasse, Espanha e Portugal teriam uma nova classe de intelectuais e artistas que exerceria uma influência estável sobre a sociedade.

A nobreza da terra no Brasil

Brasil viu uma situação semelhante com a nobreza da terra que foi a classe de fazendeiros. Até a década de 1930, o comércio tinha relativamente pouca importância no Brasil. O que contava era a classe dos fazendeiros, cujos membros costumavam ter casas nas cidades próximas onde suas famílias residiam. Em princípio, a propriedade da terra pertence ao nobre, que exerce seu senhorio sobre uma grande extensão de terra. Embora não seja um privilégio da nobreza, é apropriado ao nobre, já que seu domínio sobre um território participa em pequena escala do território do rei.

Andre Vidal de Negreiros

O Brasileiro André de Negreiros, plantador de açúcar, liderou a guerra vitoriosa que expulsou os Protestantes do Brasil em 1654. Ele recebeu uma condecoração do Rei, não um título de nobreza.
Acredito que um fator que impediu o desenvolvimento da nobreza da terra foi que essa classe não foi reconhecida por Portugal quando o Brasil era sua colônia (1500-1808) ou parte de seu Reino (1808-1822). A nobreza Portuguesa nem o aceitou depois que o Brasil se tornou um império, separado de Portugal (1822-1889), com um Imperador que era o herdeiro Português do trono de Portugal. Essa política pode ser defendida e contestada.

Como essa política se originou? Portugal não prestou muita atenção ao Brasil, talvez porque tivesse outras colônias na Índia e na África que exigiam mais atenção de Lisboa. Além disso, como Portugal era um país pequeno, não possuía uma grande nobreza e não possuía capacidade de enviar nobres a todas as suas colônias.

Logo após a descoberta do Brasil (1500), ele foi dividido em 15 territórios hereditários - chamados de – capitanias hereditárias – (1532). Mas apenas dois nobres Portugueses vieram para o país para administrar as terras; os outros capitães permaneceram em Lisboa desfrutando a vida na corte. O resultado foi que nosso país - com potencial para um sistema político-social esplêndido que poderia ter lhe dado uma estrutura muito estável - viu que o sistema falhou por falta de nobres em direcioná-lo.

Portugal e Espanha deveriam ter enviado mais nobres para a América Latina. Isso não aconteceu porque a forte atração por fazer parte da vida na corte de Madri e de Lisboa desviou esses nobres de seu dever. Eles preferiram os prazeres da corte às dificuldades da vida colonial.

Então, para aumentar as dificuldades, Portugal levantou todos os obstáculos possíveis para impedir que as elites rurais do Brasil subissem à aristocracia. Os poucos nobres Portugueses que vieram para nossos países tornaram-se parte da "nobreza da terra," mas não admitiram que os fazendeiros locais subissem naturalmente e se tornassem parte dela. Poder-se-ia defender essa política como uma medida que pretendia incentivar a nobreza da terra a se tornar mais refinada e adquirir as qualidades e condições dos nobres autênticos.

Casa de senhor de engenho, Belem do Para

Engenho de cana, Salvador, Bahia

Casa de fazenda, Rio interior

Casa de fazenda, Sao Paulo, interior

Casas de plantadores em diferentes estados do Brasil,  do topo, Pará, Bahia, Rio e São Paulo
O problema, porém, é que, mesmo depois que essa classe de fazendeiros se tornou bastante civilizada, Portugal nunca enobreceu nenhuma família Brasileira. Mesmo depois que o Brasil se tornou império e os títulos de nobreza foram concedidos, esses títulos eram pessoais, ou seja, não podiam ser repassados às novas gerações; eles não eram hereditários. Penso que este foi um erro substancial de Portugal. Deveria ter favorecido a transformação da elite rural orgânica em uma verdadeira nobreza. Se o tivesse feito, a nobreza Portuguesa teria sido infundida com um novo sangue, um novo dinamismo para ajudar a construir uma autêntica comunidade Portuguesa.

A coroa Portuguesa tinha uma fobia contra tudo o que não era a nobreza medieval. Quando nomeou as 15 primeiras capitanias hereditárias, evitou dar a seus administradores o título correspondente. Eles foram chamados de capitães hereditários, um exército e posto policial que não existe na nobreza. Essa política de diminuir a nobreza da terra no Brasil estava presente desde o início e tornou-se firmemente enraizada.

Deixando de lado esse erro histórico, é preciso reconhecer que as elites de nossas vilas e cidades nasceram organicamente da vida rural. Os membros dessas elites rurais tradicionais gradualmente participaram do governo. Eles foram levados ao poder não por seus direitos, mas por eleição popular depois que a república foi estabelecida no Brasil (1889). Às vezes, as guildas regionais elegiam seus representantes para lugares no governo e conselho municipal, mas geralmente os fazendeiros eram eleitos devido à sua importância na área.

Assim, essa classe de fazendeiros tornou-se muito culta, refinada e rica, e passou a exercer cada vez mais poder nas cidades do interior, mesmo enquanto mantinham suas raízes no campo. Esses fazendeiros deveriam ter recebido títulos para se tornar uma nobreza, como a França fez com sua nobreza de manto e Portugal com as famílias que se formaram em Coimbra.

Postado em 13 de abril de 2020

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Prof. Plinio
Sociedade Orgânica foi um tema caro ao falecido Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Ele abordou este tema em inúmeras ocasiões durante a sua vida - às vezes em palestras para a formação de seus discípulos, às vezes em reuniões com amigos que se reuniram para estudar os aspectos sociais e história da cristandade, às vezes apenas de passagem.

Atila S. Guimarães selecionou trechos dessas palestras e conversas a partir das transcrições das fitas e de suas anotações pessoais. Ele traduziu e adaptou-os em artigos para o site da TIA. Nestes textos, a fidelidade às idéias e palavras originais é mantida o máximo possível.

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