Beatriz da Silva, Parte III - O início difícil da Ordem Concepcionista

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Nossa Senhora do Bom Sucesso

Beatriz da Silva – Parte III

O início difícil da Ordem Concepcionista

Marian T. Horvat

Durante 30 anos, Dona Beatriz da Silva viveu no Convento de San Domingo el Real, em Toledo, esperando cumprir a ordem que Nossa Senhora lhe deu de fundar uma Ordem dedicada à sua Imaculada Conceição. Por 30 anos ela viveu silenciosa, escondida, permanecendo fiel à sua missão, confiante de que sua espera era a semente que daria uma grande colheita na Igreja e no mundo.

Ven. Beatriz da Silva (1424-1492)

Finalmente, em 1483, Beatriz da Silva e as 12 mulheres que ela vinha formando estabeleceram-se num castelo nos arredores de Toledo, que se tornou o primeiro Convento Concepcionista de Santa Fé. Seguiu-se outra espera enquanto ela tentava obter a aprovação papal da Ordem, que foi recebida do Papa Inocêncio VII em 1489 de forma milagrosa, como vimos no artigo anterior. Então, no mesmo dia em que fez seus votos e vestiu o hábito azul e branco das concepcionistas, ela deixou esta terra. Do Céu, ela guiaria a nova Ordem.

Uma profecia cumprida

Beatriz tinha o costume de passar longas horas à noite no coro, rezando diante do Santíssimo Sacramento. Certa vez, ao implorar fervorosamente a Nossa Senhora a aprovação papal de sua tão esperada Ordem, ela viu apagar-se a luz do Santíssimo Sacramento. Alarmada, rezou com maior ardor e viu voltar a luz, embora não visse quem a acendera.

Então ela ouviu estas palavras: “O que você viu acontecerá com sua Ordem. Ela se extinguirá após a sua morte, mas como a Igreja que foi perseguida no início, mas depois floresceu e foi aclamada, ela crescerá e se espalhará por todo o mundo.”

Aconteceu exatamente como predito à Madre Beatriz da Silva. No mesmo dia de sua morte, Madre Beatriz, vestida de Concepcionista, apareceu ao franciscano Frei Juan de Tolosa em Guadalajara, dizendo-lhe que fosse a Toledo para defender sua Ordem.

As monjas da nova Ordem já estavam sitiadas pelas monjas de São Domingos, onde a Fundadora viveu por três décadas. A estabelecida Ordem de Cister já estava tentando fundir as freiras ainda não professas do Convento de Santa Fé com sua Ordem e enterrar o corpo de Beatriz em seu Convento.

Arcebispo Cisneros - um forte promotor da nova Ordem Concepcionista

Frei Juan de Tolosa conseguiu convencer os religiosos de São Domingos a deixar a incipiente comunidade Concepcionista no Convento de Santa Fé. Então, em 25 de agosto de 1490, recebeu os votos das 12 freiras chefiadas pela nova Madre Abadessa Filipa da Silva, sobrinha de madre Beatriz.

Esta foi apenas a primeira das duras provações que a jovem comunidade teria de enfrentar. Logo o convento estava enfrentando outra fusão, desta vez com o Convento de San Pedro de las Dueñas em Toledo. Aquele convento beneditino estava decaindo de espírito, tendo perdido o fervor inicial. Por esta razão, o Reformador Geral de todas as Ordens de Castela, Arcebispo de Toledo Francisco de Cisneros, ordenou que o Convento Concepcionista de Santa Fé fosse para lá morar. A comunidade de São Pedro viria a adoptar o hábito e modo de vida concepcionista, convivendo as duas comunidades sob a direção da Abadessa Concepcionista Madre Filipa da Silva.

O período de mudança foi difícil e fortes divisões surgiram na comunidade fundida. As freiras da Ordem mais antiga ressentiam-se das correções e costumes impostos pela Ordem mais nova e menos estabelecida.

A situação chegou a tal ponto que o Arcebispo Cisneros, ele próprio franciscano e promotor da Imaculada Conceição, estava disposto a dissolver a nova Ordem. Não foi este, porém, o desígnio de Deus, que inspirou o Prelado a fazer uma última tentativa de salvar a Ordem. Em 1500 as freiras concepcionistas foram instaladas no Convento de São Francisco de Toledo, sob a Ordem dos Franciscanos Conventuais. A luz da Ordem quase extinta reacendeu-se.

A luz se espalha

A Rainha Isabel também não abandonou a Ordem fundada pela parenta portuguesa Beatriz da Silva. Após a morte de Beatriz, a Rainha junto com o Arcebispo Cisneros foram figuras influentes na formação do futuro da Ordem. Em 1511, ela fez uma petição ao Papa Alexandre VI, pedindo-lhe que aprovasse uma nova Regra para a Ordem Concepcionista e a colocasse sob os franciscanos, em vez da autoridade arquidiocesana.

Em 17 de setembro de 1511, o Papa Júlio II emitiu a Bula Ad statum properum, que confirmou a Regra da Ordem da Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria. Como Beatriz da Silva sempre desejou, a sua Ordem foi finalmente colocada sob a Ordem dos Frades Menores. A Ordem Concepcionista teve então sua própria Regra e foi inserida na árvore de São Francisco de Assis.

As asas da incipiente Ordem se abriram e ela levantou voo, entrando em um período de crescimento e vigor. Novos conventos floresceram primeiro na Espanha, com 40 conventos fundados apenas em Castela no século 16.

A Ordem logo se espalhou por Portugal, Itália e França, pois as jovens mostraram-se ansiosas por abraçar a vida inspirada por Beatriz da Silva sob o signo de Maria na invocação da Imaculada Conceição. A Ordem Concepcionista, outrora prestes a ver extinta a sua primeira casa, tornara-se uma das maiores Ordens Religiosas femininas de vida contemplativa da Igreja.

A Ordem da Conceição - uma árvore franciscana que deu ricos frutos

O primeiro convento da América foi fundado no ano de 1540 e foi patrocinado pelo Bispo franciscano Juan de Zumárraga, o mesmo Prelado que Nossa Senhora escolheu para testemunhar o milagre de Guadalupe. Na fecunda árvore concepcionista encontramos a grande escritora mística, Madre Maria de Jesus de Ágreda, autora de A Cidade de Deus. Durante os anos de 1620 a 1631, esta freira concepcionista bilocou-se na América, fazendo mais de 500 visitas aos índios do Sudoeste para instruí-los na fé católica e encaminhá-los às missões franciscanas para pedir o Batismo.

Outro dos ricos frutos da Ordem na América só veio à tona recentemente. Em 1577, Madre Mariana de Jesus Torres ajudou a fundar o primeiro Convento Concepcionista em Quito, Equador. Foi favorecida com muitas aparições de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que lhe revelou o estado desastroso da sociedade e da Igreja no século 20 e lhe pediu que fosse uma alma vítima expiatória para tempos futuros, os nossos tempos. Nossa Senhora também lhe disse que somente naquele século calamitoso seu nome se tornaria conhecido, como aconteceu.

Outra das profecias de Nossa Senhora à Madre Mariana de Jesus Torres foi que a Fundadora Concepcionista, Beatriz da Silva, seria elevada aos altares apenas no século 20. De fato, sua causa foi introduzida em 1636 e ela foi nomeada Venerável. Mas então os séculos se passaram sem nenhuma ação adicional.

Sua causa foi finalmente reaberta sob o papa Pio XI e ela foi beatificada em 1924. Em 1976 ela foi canonizada com sua festa marcada para 17 de agosto, dia em que professou seus votos e morreu.

Após mais de 400 anos, a Ordem Concepcionista conta com mais de 120 conventos espalhados pela Europa e América Latina. Como tinham predito os dois frades que conheceu a caminho de Toledo, Beatriz da Silva tornou-se uma grande señora e mãe de muitos filhos.

Hoje, os restos mortais desta esposa de Cristo repousam na igreja da casa mãe em Toledo. Ali dão testemunho de que a estrela de Beatriz iluminará sempre o firmamento da Ordem Concepcionista como guia segura nas trevas e testemunho da sua inabalável confiança na Virgem Imaculada.