Como vimos, em 1443, Nossa Senhora salvou a piedosa e bela Beatriz da Silva de uma tentativa contra a sua vida pela Rainha de Castela; ao mesmo tempo, ela lhe deu a missão de fundar uma Ordem dedicada à sua Imaculada Conceição. Seriam mais de 40 anos de espera como irmã leiga em um convento Dominicano em Toledo antes que Beatriz cumprisse sua vocação.
A tarefa era formidável, até impossível, alguém poderia dizer. Embora a doutrina de que Nossa Senhora, como Mãe de Deus, não tenha pecado e que dele se esquivou desde o primeiro instante em que foi concebida sempre foi ensinada desde a Igreja primitiva, não era um dogma oficial. No final do século 14, uma controvérsia feroz havia se desenvolvido, com as universidades Franciscanas Espanholas defendendo esse ensinamento, e as escolas Dominicanas Francesas se opondo.
Uma pintura colonial típica da Imaculada Conceição no Novo Mundo |
Com a brilhante defesa do Franciscano João Duns Escoto, a doutrina passou a ser a opinião comum nas universidades, mas esse era um tópico ainda muito discutido com paixão na época em que Beatriz vivia. Certamente, foi considerada uma iniciativa ousada para uma mulher propor uma nova Ordem especificamente dedicada à Imaculada Conceição de Nossa Senhora.
Chegou a hora da Ordem
Ao mesmo tempo, a Divina Providência estava abrindo portas para tornar possível essa tarefa inviável. A Imaculada Conceição foi uma devoção extremamente popular na Espanha. Os Franciscanos Espanhóis a honraram com santuários, orações e cânticos; inúmeras imagens foram pintadas em sua homenagem, e as pessoas oraram entusiasticamente a ela sob esse título.
Em Castela, o Rei Fernando e a Rainha Isabel tinham uma forte devoção à Imaculada Conceição e aproveitavam todas as oportunidades para prestar homenagem pública a Nossa Senhora sob essa invocação. A Rainha Isabel fundou três capelas em sua homenagem, uma em Toledo, uma em Sevilha e outra em Guadalupe, concedendo a esta liberalmente uma garantia de que seu dia de festa seria solenemente comemorado todos os anos. (1)
Em 1471, um Franciscano e defensor da Imaculada Conceição, Francesco della Rovere, subiu ao trono papal como Sisto IV. Em 1476 - apenas oito anos antes de Beatriz finalmente encontrar sua Ordem - este Papa estabeleceu a festa da Imaculada Conceição em 8 de dezembro para toda a Igreja Romana. Um ano depois, ele emitiu a Constituição Cum Praecelsa que aprovou a Missa e o Ofício da Imaculada Conceição, com indulgências.
Em Castela, a Rainha católica foi firmemente estabelecida em seu trono após a batalha decisiva travada em Toro em 1476, que consolidou a união de Aragão e Castela e garantiu uma paz firme com Portugal. Em Toledo, como observamos no último artigo, a Rainha Isabel estava construindo o Mosteiro de San Juan de los Reyes em ação de graças por essa vitória e pelo nascimento de seu filho Juan. Agora, seu interesse se voltava para a ex-dama de sua mãe, Dona Beatriz, que esperava pacientemente para cumprir o mandato que Nossa Senhora lhe dera muitos anos antes.
Em 1483, a Rainha Isabel ofereceu a Beatriz um castelo e sua capela e propriedade adjacentes fora de Toledo para o primeiro convento da Ordem da Imaculada Conceição. Foi um gesto generoso para honrar a Imaculada Conceição de uma Rainha conhecida por sua bondade e magnanimidade. Talvez essa Rainha também quisesse reparar o grave erro que outra Rainha Isabel, sua mãe, havia cometido contra sua parente Portuguesa Beatriz da Silva.
Aprovação papal para a Ordem
Pela segunda vez, Nossa Senhora apareceu a Beatriz usando o hábito branco e o manto azul, desta vez para dizer que havia chegado a hora de ela realizar sua missão. Pouco depois, em 1484, Beatriz, acompanhada por 12 companheiras - a maioria Portuguesas - que ela havia formado, instalou-se no Castelo de Galiana, nos arredores de Toledo, presente da Rainha à incipiente Ordem. A capela do castelo se chamava Santa Fé, e o primeiro convento da Imaculada Conceição recebeu o nome de Convento de Santa Fé.
A Bula papal, ainda hoje preservada, foi milagrosamente encontrada em uma urna
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Pelos cinco anos seguintes, Beatriz e suas companheiras viveram uma vida rigorosa no seu novo Convento, seguindo a regra Cisterciense e recitando o Oficio da Virgem. Durante esse tempo, ela mesma elaborou as normas para a nova ordem, estabelecidas na oração contemplativa e na oração do Ofício Divino. Nesse sentido, não havia nada essencialmente diferente de qualquer outra forma de vida contemplativa monástica, exceto por sua clara identificação com a Imaculada Conceição.
A aprovação papal de sua ordem não seria recebida até 30 de abril de 1489. Naquela data, o Papa Inocêncio VIII, a pedido de Beatriz e da Rainha Isabel, assinou a Bula Inter universa, aprovando a nova Ordem, a regra e o hábito.
Nossa Senhora forneceu um meio prodigioso para Beatriz receber essas boas novas. No mesmo dia em que o Papa assinou a Bula, uma pessoa misteriosa apareceu no convento de Toledo, comunicando a Beatriz que o Papa havia aprovado a Ordem. Ela acreditava que o mensageiro era São Rafael, a quem Beatriz tinha uma grande devoção e rezava diariamente desde que era menina.
Mas havia um infortúnio reservado. Aquela Bula papal, pela qual ela estava esperando, não chegou. Três meses depois de assinada, chegaram a Toledo notícias de que o navio que a carregava havia sido perdido no mar. Isso causou grande tristeza e ansiedade no coração de Beatriz e, por três dias, jejuou e rezou. No quarto dia, ela foi abrir um baú para recuperar algum item necessário e encontrou a Bula original em cima.
Em 2 de agosto de 1490, toda a cidade de Toledo se alegrou com as freiras e organizou uma grande procissão carregando a “Bula milagrosa” da Catedral até o primeiro convento Concepcionista de Santa Fé. Na Missa Pontifícia, o Bispo Garcia de Quijada, de Guadix, Franciscano, anunciou que em 15 dias Beatriz e suas companheiras vestiriam seus hábitos e véus.
Sua profissão e morte
Cinco dias depois, no entanto, quando Beatriz estava em oração devota no coro, a Virgem apareceu para ela pela terceira e última vez. Nossa Senhora disse-lhe: “Minha filha, em 10 dias você estará comigo. Não é da vontade do Meu Filho e da minha que você desfrute aqui na terra o que há tanto tempo desejaste.”
No dia de sua profissão, morre a fundadora das Concepcionistas |
Em 17 de agosto de 1490, no mesmo dia designado para as freiras, Beatriz da Silva morreu tranquilamente aos 66 anos. Antes de morrer, fez sua profissão religiosa com seu confessor Franciscano, Bispo Garcia, e recebeu o habito Concepcionista e véu. Assim, ela morreu uma verdadeira Concepcionista, vestida com o hábito e escapulário branco e com o manto azul, usando o medalhão de pano da Virgem e o cordão de cânhamo Franciscano.
No momento de sua morte, coisas maravilhosas foram vistas. Quando o véu - que cobria seu rosto desde que ela deixara a corte real - foi erguido para ungir ela com óleo, seu rosto brilhou com tanta intensidade que todos os presentes ficaram surpresos. Então, no meio da testa, apareceu uma estrela que emitia uma grande luz e esplendor, que permaneceu ali até o último suspiro, como testemunharam seis frades da Ordem de São Francisco. É por esse motivo que as fotos da Madre Beatriz da Silva a representam com uma estrela na testa.
Qual foi o seu significado? Suas filhas acreditam que ela foi escolhida como estrela para guiar gerações de virgens que consagrariam a Deus seu amor e pureza em homenagem à Imaculada Virgem. E, do Céu, ela salvaria sua Ordem durante seus primeiros anos de tempestade.
Continua
Antonio J. Jiménez Sánchez, Beatriz de Silva y la Inmaculada Concepción. Orígenes de una Orden, pp, 695-696
Postado em 24 de setembro de 2021
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