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Missa de Diálogo - XXII

Pio XII:
'As Reformas vêm do Espírito Santo'

Dra. Carol Byrne, Grã-Bretanha
O discurso do Papa Pio XII aos participantes do Congresso de Assis em 1956 contém uma série de surpresas indesejáveis para aqueles que o consideravam em todos os sentidos um Papa solidamente tradicional. Assim como o próprio Congresso se revelou uma plataforma de propaganda tendenciosa, o discurso do Papa refletiu e perpetuou a “narrativa” dos reformadores, endossando sua mensagem sobre a “participação ativa” dos fiéis na liturgia.

Uma fanfarra papal para o Movimento Litúrgico

Pope Pius XII, not a conservative

Pio XII em 1956, Conservador na aparência, mas já imerso na Reforma Litúrgica

Em seu discurso, Pio XII elogiou o que chamou de “realizações práticas” do Movimento Litúrgico nos últimos 30 anos. Entre as "realizações práticas" que ele havia habilitado até agora estavam as seguintes:
  • O vernáculo pode ser usado na administração dos Sacramentos;
  • Os fiéis podiam recitar em voz alta as respostas do acólito durante a Missa e cantar junto com o coro;
  • As mulheres foram oficialmente autorizadas, embora sob certas condições, a cantar no coro; (1)
  • A liturgia da Semana Santa de 1955, particularmente a Vigília Pascal, foi destruída e reconstruída para atender à “participação ativa” dos leigos;
  • Em algumas cerimônias, o celebrante era obrigado a ficar de frente para o povo e havia um diálogo opcional em vernáculo;
  • O Breviário foi drasticamente reduzido (“simplificado”) como o precursor de uma reforma mais completa, incorporando os desejos dos progressistas. No discurso de abertura do Congresso de Assis em 1956, o Cardeal Cicognani disse que a “simplificação das rubricas foi a precursora da eventual reforma do breviário.” (2)
O Papa afirmou que “progressos inegáveis” foram feitos por meio dessas reformas. Mas “progresso” não garante necessariamente melhora, como no caso do progresso de uma doença terminal. No contexto do Movimento Litúrgico, “progresso” significava apenas um avanço no caminho em direção aos objetivos pretendidos pelos arquitetos do Progressismo.

E sabemos exatamente quais eram esses objetivos - a substituição da liturgia tradicional da Igreja por uma construção centrada no homem em que a “participação ativa” dos leigos seria a característica predominante. Ainda assim, Pio XII afirmou: “Desejamos sinceramente que o Movimento Litúrgico progrida e queremos ajudá-lo.”

Uma nova abordagem 'pastoral' da liturgia

Essas reformas representaram uma virada significativa no desenvolvimento litúrgico da Igreja, a precedência da chamada “liturgia pastoral” (destinada a adaptar as cerimônias à mentalidade prevalecente do homem moderno) sobre a tradição litúrgica objetiva da Igreja.

Jesuit Jungmann

O progressista Pe. Jungmann acusou o rito tradicional de perder seu poder de santificar

Como Bugnini explicou em suas Memórias, o Movimento Litúrgico, com o apoio do Papa Pio XII, “entrou em seu verdadeiro curso - o da preocupação pastoral - e estava, assim, voltando ao ideal que tinha no início.” (3) Mas onde isso deixa a liturgia de todos os séculos que se seguiram? Obviamente, não deveria ser ignorado como "verdadeiro," nem "pastoral," nem "ideal.”

De fato, um dos palestrantes do Congresso de Assis, Pe. Josef Jungmann, postulou que a liturgia da Igreja tinha, desde os primeiros tempos Cristãos, se “corrompido” e tinha perdido seu poder de santificar os fiéis porque eles não podiam entender nem participar dela.

A implicação dessa mancha blasfema no sagrado patrimônio da Igreja é que o que outrora estimávamos nunca foi realmente valioso, em primeiro lugar. Daí se segue que em algum lugar de sua história inicial o Espírito Santo havia se afastado da liturgia Católica, apenas para retornar no século 20 com a nova abordagem “pastoral” do Movimento Litúrgico.

Brincando para a audiência

É inegável que Pio XII favoreceu esta nova abordagem “pastoral” e até pensou que trazia o selo Divino de aprovação. Para alegria dos participantes de Assis reunidos em Roma, afirmou:

“O Movimento Litúrgico se manifesta, assim, como sinal das disposições providenciais de Deus para o tempo presente, do movimento do Espírito Santo na Igreja.”

Se Deus estava com ele, quem poderia ser contra? Uma opinião mais imprudente e divisionista dificilmente poderia ser imaginada - imprudente porque parecia implicar que a liturgia tradicional era grosseiramente deficiente e precisava de mudanças guiadas pelo Espírito; e divisivo porque sinalizou a preferência do Papa pelos reformadores, em vez dos conservadores na Igreja, pelo menos em certas questões.

Assisi papers 1956

Os Documentos de Assis foram aprovados por Pio XII - um grande passo para a Reforma Litúrgica

Mas, o ponto saliente é que o Papa - ou quem quer que tenha escrito seu discurso - simplesmente presumiu que, porque as reformas litúrgicas foram promovidas por membros da Igreja, seu Movimento deve necessariamente gozar da aprovação Divina. Sua declaração de que “a principal força motriz, tanto na doutrina quanto na aplicação prática, veio da hierarquia” é profundamente preocupante por duas razões.

Primeiro, é uma admissão devastadora em suas implicações. Revela que foram os líderes da Igreja, incluindo o próprio Papa, a força motriz do esforço internacional para reformar a liturgia. Em outras palavras, foram os Pastores, mais do que os liturgistas, os responsáveis por conduzir as ovelhas para um penhasco litúrgico sobre o qual cairiam com surpreendente rapidez dentro de alguns anos.

No entanto, apenas uma pequena minoria de Bispos da época era favorável às reformas; e no início de seu pontificado a maioria não tinha a menor suspeita de que tais reformas estavam sendo planejadas. É incompreensível, portanto, que ele procurasse alterar a espiritualidade dos Católicos que valorizavam as tradições da Igreja para se adequar àqueles que não o faziam.

Segundo, o Papa falava como se as reformas fossem incontestavelmente ortodoxas “tanto na doutrina como na aplicação prática,” como se a lex credendi estivesse em perfeito acordo com a lex orandi. Não estamos tratando aqui da ortodoxia do magistério de Pio XII em questões de doutrina Católica. Mas, na medida em que suas reformas promoviam a “participação ativa” dos leigos nas funções sagradas, introduziam uma tensão entre a Fé e a prática pastoral. Os leigos agora eram vistos como “em movimento” contra um clero “despótico,” que supostamente os havia roubado de seus papéis legítimos na liturgia, para retomar o que lhes pertencia em virtude de seu batismo. A luta de classes entre clérigos e leigos foi a raison d’être do Movimento Litúrgico desde seu início por Dom Lambert Beauduin.

Embora Pio XII tenha ensinado a verdadeira doutrina do sacerdócio Católico, ele deu impulso oficial à revolução contínua da “participação ativa” dos leigos, que desafiou o papel exclusivo do sacerdote. Promovendo este espírito competitivo, deu início ao processo que fez da liturgia um campo de batalha ideológico que perdura até hoje, em detrimento do sacerdócio ministerial e confusão dos fiéis.

Pio XII enganado por falsa propaganda

Muito do discurso de Pio XII em Assis ecoou os desideratos que os reformadores vinham apresentando em seus vários congressos e publicações. O fato de que as forças do Progressismo devam desempenhar um papel central no discurso do Papa, é altamente significativo. Isso mostra que ele foi influenciado pela retórica deles ao tomar decisões políticas para o resto da Igreja. Ele aceitou a palavra deles de que “os fiéis receberam essas diretrizes com gratidão e mostraram-se prontos para respondê-las.”

Mas, isso foi pura invenção de Bugnini, que havia manipulado os resultados das pesquisas da Comissão litúrgica para dar a impressão enganosa de aceitação geral. Apesar de todos os seus esforços, Bugnini não havia produzido evidências que fossem, na realidade, objetivamente convincentes ou estatisticamente significativas.

Além disso, os reformadores estavam espalhando um falso sentimento de desânimo sobre como os ritos tradicionais eram inúteis e alegando que os fiéis receberam com alívio todas as novas e emocionantes iniciativas que estavam em oferta.

Não houve euforia geral entre a população Católica, clerical ou leiga, em resposta às reformas. Na verdade, os próprios reformadores reclamaram durante anos da falta de entusiasmo pela “participação ativa” e da extrema dificuldade em fazer os fiéis dizerem ou cantarem as respostas. Além disso, é desonesto afirmar que os leigos aceitaram as reformas com alegria com base em sua presença nas cerimônias, às quais compareceram por dever e obediência.

Continua

  1. Ver a Encíclica Musicae Sacrae (Da Música Sacra), 25 de dezembro de 1955, § 74. O documento permite às coristas sob a desculpa esfarrapada “onde não há meninos suficientes” para cantar na igreja. Mas quão poucos são "não suficientes?" Homens (dos quais nunca faltava naquela época) sempre podiam ser recrutados para fazer esse número. Tal como aconteceu com o desastre do servidor de altar na década de 1990, a melhor maneira de garantir a escassez de meninos em papéis litúrgicos é fazer com que as meninas se apresentem ao lado deles.
  2. La Maison-Dieu, No. 47-8, 1956, pp. 44-5
  3. A. Bugnini, A Reforma da Liturgia, p. 6

“Dada a atualidade do tema deste artigo (5 de agosto de 2015), TIA do Brasil resolveu republicá-lo - mesmo se alguns dados são antigos - para benefício de nossos leitores.”


Postado em 22 de dezembro de 2021

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