Meditação sobre o Inferno
Hoje, quando temos Papas conciliares nos dizendo que o
Inferno e o Céu não são lugares físicos, mas estados de espírito – o que entra em conflito com a doutrina católica – parece bastante oportuno publicar esta meditação lógica sobre o Inferno, de São Roberto Belarmino, o maior Doutor antiprotestante da Igreja. Ele descreve o conjunto de tormentos físicos e espirituais que aqueles que são condenados sofrem eternamente no Inferno.
São Roberto Belarmino
Resta-nos considerar a justiça que Deus exerce ao punir os pecadores no abismo mais profundo do Inferno. Se o fizermos com cuidado e atenção, compreenderemos quão verdadeiras são as palavras do Apóstolo: “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hebr 10,31) …
A respeito da vida presente, Isaías diz: “No tempo aceitável, eu te ouvi, e no dia da salvação, eu te ajudei” (Is 49,8). Explicando isso em sua Segunda Carta aos Coríntios, o Apóstolo diz: “Eis aqui agora o tempo aceitável; eis aqui, agora, o dia da salvação” (2 Cor 6,2).
Quanto ao tempo futuro que virá depois desta vida, Sofonias exclama: “Aquele dia é dia de ira, dia de tribulação e angústia, dia de calamidade e miséria, dia de trevas e escuridão, dia de nuvens e redemoinhos, dia de trombetas e alarme” (Sof 1,15-16). Não apenas todos os pecados serão punidos, mas serão punidos com tormentos horrendos e pavorosos, que serão tão massivos que agora dificilmente podem ser imaginados pelos homens.
Assim como “olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, nem subiu ao coração do homem o que Deus preparou para aqueles que o amam” (Is 64,4; 1 Cor 2,9), assim também olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, nem subiu ao coração do homem o que Deus preparou para seus inimigos.
De fato, o castigo dos pecadores no Inferno será múltiplo e completo, isto é, sem mistura de quaisquer consolações, e, o que aumenta infinitamente a sua miséria, serão eternas.
Serão muitas, digo eu, porque cada uma das faculdades da alma e cada um dos cinco sentidos do corpo terão os seus tormentos.
Ponderai as palavras desta sentença do Juiz Supremo que se encontra no Evangelho: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno” (Mt 25, 41). “Apartai-vos de mim,” diz ele, isto é, afastai-vos da comunhão dos bem-aventurados, permanecei privados para sempre da visão de Deus, que é a felicidade suprema e essencial e o fim último para o qual fostes criados.
“Malditos,” isto é, não alimenteis mais esperança de qualquer tipo de bênção; estais privados de qualquer vida de graça, de qualquer esperança de salvação; a água da sabedoria não mais choverá sobre vós, nem o orvalho das boas inspirações. Não mais vos iluminará o raio de luz celeste, nem brotará em vós a graça do arrependimento, nem a flor da caridade, nem o fruto das boas obras.
"Aquele que vem do alto (Lc 1,78) nunca mais os visitará daquele momento em diante; vocês terão falta não apenas de bens espirituais, mas também materiais, não apenas de bens eternos, mas também temporais. Para vocês não haverá riquezas, nem prazeres, nem consolação, mas serão como a figueira que eu amaldiçoei, a qual secou imediatamente, com raiz e tudo (Mt 21,19).
Ele diz: “Para o fogo,” isto é, para a fornalha de fogo ardente e inextinguível que se apoderará não de um membro, mas de todos os seus membros ao mesmo tempo e os queimará com a mais aguda dor.
“Eterno,” isto é, para o fogo que não precisa ser alimentado com lenha para continuar queimando para sempre, mas é atiçado pelo sopro do Deus Todo-Poderoso para que, assim como sua culpa nunca será destruída, nunca haja fim para seu castigo.
Com razão, então, o profeta Isaías exclama: “Quem de vocês pode habitar dentro de um fogo consumidor? Quem de vocês pode habitar em meio às chamas eternas?” (Is 33,14). Com isso, ele diz que absolutamente ninguém pode suportar esse fogo pacientemente, mas os condenados serão forçados contra sua vontade a suportá-lo com impaciência, raiva e desespero.
Ele acrescenta: “O seu verme não morrerá, e o seu fogo não se apagará” (Is 66,24). Estas palavras são repetidas mais de uma vez por Nosso Senhor no Evangelho de São Marcos (Mc 9,43-45-47). O remorso de consciência aumentará com a lembrança dos tempos em que os pecadores, se quisessem, poderiam ter escapado daqueles castigos com um pequeno esforço e desfrutado das alegrias eternas do Paraíso.
Ninguém deve pensar que os condenados podem encontrar um pouco de alívio andando por aí e mudando de lugar. Ouça o que o próprio Senhor diz: “Amarrai-lhe as mãos e os pés e lançai-o nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 22,13).
Portanto, aqueles miseráveis, atados de pés e mãos por cadeias eternas, jazerão para sempre no mesmo lugar, privados da luz do sol, da lua e das estrelas, queimados pelo fogo ardente, chorando, lamentando e rangendo os dentes em sua fúria e desespero.
Aqueles que forem lançados naquele lugar cheio de horror sofrerão não apenas a mais terrível dor no fogo eterno, mas também a privação absoluta de todas as coisas, bem como vergonha e desgraça repletas de agudo embaraço e confusão.
De fato, num piscar de olhos, perderão seus palácios, campos, vinhas, rebanhos, bois, roupas, bem como seu ouro, prata e pedras preciosas, e serão reduzidos a tal miséria que o rico conviva desejará e implorará por uma gota de água fria, mas não será ouvido (Lc 16,24-26). …
Se o que dissemos sobre a perda de todos os bens, tanto celestiais quanto terrestres, e sobre as dores amargas, a ignomínia e a vergonha, tivesse fim ou pelo menos fosse misturado a algum tipo de consolo ou alívio, como acontece com todas as misérias desta vida, então poderiam ser considerados toleráveis de alguma forma.
Contudo, é absolutamente certo e fora de qualquer dúvida que, assim como a felicidade dos bem-aventurados será perpétua e sem aflições, assim também a infelicidade dos condenados durará para sempre, sem qualquer alívio.
Aqueles que não fazem todo o esforço para alcançar o Reino dos Céus e a felicidade eterna, independentemente de quaisquer provações, perigos, vergonha e morte, que o Apóstolo chama de leves e passageiras (2 Cor 4,17), devem ser, na verdade, cegos e tolos.
(A Ascensão da Mente a Deus pela Escada das Coisas Criadas, em
Roberto Belarmino: Escritos Espirituais (Clássicos da Espiritualidade Ocidental),
Paulist Press, 1988, Cap. IV, pp. 219-221)
Postado em 16 de agosto de 2025


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