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Abismo: Quando um ‘Conservador’
Abraça o Progressismo

Salwa Bachar

Resenha do livro The Church Impotent de Leon J. Podles
Spence Editora, 1999, 208pp.
Book cover of the Church Impotent, Podles
Algumas semanas atrás, um conhecido de Malta sugeriu que eu lesse The Church Impotent de Leon J. Podles. Eu nunca tinha ouvido falar do livro ou de seu autor, mas o título irreverente levantou minha oposição, e isso despertou minha vontade de o revisar. Após algumas pesquisas na web, verifiquei que o Sr. Podles é conhecido em alguns círculos católicos conservadores.

Ao ler este livro, encontrei-me descendo ao mundo sombrio de Freud, von Balthasar, Progressismo e Cabala, que está solto dentro da Igreja graças ao Concílio Vaticano II.

Eu poderia dedicar vários artigos para analisar este livro, mas desde que eu estou limitada a uma única revisão, só vou relatar o que um leitor deve saber.

Confuso conceito de igreja

Este trabalho pretende ser uma crítica da Igreja Católica. Mas, em vez de restringir sua pesquisa à Igreja Católica, o autor cita prevalentemente estatísticas sobre protestantes e comentários de protestantes. Ele agrupa católicos e protestantes no que ele chama de "Cristianismo Ocidental" (cf. Prefácio, p. xii), e depois de fornecer quase 30 páginas de estatísticas sobre templos e grupos protestantes "feminizados" no primeiro capítulo, ele sugere que os protestantes são a Igreja: “Onde quer que o Cristianismo Ocidental se espalhou, a igreja se efeminizou.” (Pp. 25-26, 157)

Então, aqui está sua primeira contradição: Para atacar a Igreja Católica ele põe os protestantes nas fileiras do Cristianismo como se fossem o mesmo que os católicos.

De que "igreja" ele está tratando? O leitor fica confuso. O autor tem idéias embaralhadas sobre que a Igreja ele está criticando, o que me parece ser uma falha fundamental que compromete toda a sua tese.

Adoção do Freudismo

Podles promove explicitamente as teorias freudianas, as quais levam à obsessão sexual. Eu dou alguns exemplos:

Leon Podles follows Freud

Podles, à esquerda, é claramente influenciado por Freud e sua filosofia obcecada por sexo

Ele promove o “Complexo de Édipo” freudiano, afirmando: “Uma criança, homem ou mulher, existe em uma enorme consciência, na qual a mãe e a criança se fundem em uma só identidade feliz, erótica” (pp. 40, 46)

Mais tarde, ele projeta este erotismo mãe-filho na religião. Ele afirma que desde que “uma mulher se relaciona eroticamente com um homem não apenas como marido e amante, mas também como um filho e uma criança” (p. 119), a devoção das mulheres ao Cristo Menino é uma expressão desse “eros materno” (p. 119). Ele deduz ainda que, quando as freiras têm devoção ao Menino Jesus, elas “sentem a criança beijando seus seios” e “beijam [Seu] prepúcio [na circuncisão]” (p. 120-121).

E, mais ofensivamente, ele afirma que a devoção masculina a Nossa Senhora durante a Idade Média é outra manifestação desse erotismo: “Os homens cristãos tinham uma relação quase erótica com Maria” (p. 148, 140).

Essa obsessão sexual freudiana está diretamente ou indiretamente presente em todo o seu trabalho.

Tributário da androginia cabalística

Podles assume um critério para julgar a história que não é apenas freudiano, mas parece cair nas obscuras doutrinas da Cabala judaica, a qual é fundamentalmente andrógina. De fato, a divindade cabalística judaica – Adam Kadmon – é composta de nove elementos masculinos e femininos que têm relações sexuais entre si. O resultado final dessa eterna orgia, "Adam", é, portanto, uma entidade andrógina que possui em si ambos os sexos ativos.

Podles parece prestar homenagem a este andrógino esotérico quando:

Adam Kadman

Adam Kadmon, à esquerda, a deidade andrógina da Cabala e muitas seitas esotéricas como tendo 'energia' perfeita

• Ele afirma que Deus é masculino e feminino (cf. pp. 64, 86);

• Afirma que o Verbo Eterno também é andrógino: “Ele conforma homens e mulheres à sua própria imagem como Filho” (p. 87);

• Ele pretende que na Igreja primitiva e na Idade Média Jesus foi descrito como “Mãe” (cf. pp. 79-80, 121);

• Ele imagina o Espírito Santo como andrógino, às vezes masculino e outras vezes feminino: “O Espírito é Deus e, como tal, tem uma relação com a criação que só pode ser descrita como masculina. No entanto, há uma razão válida para associá-lo ao feminino” (p. 82);

• Ele defende que a “Trindade é o aspecto feminino de Deus” (p. 86);

• Agora, aplicando o andrognismo ao gênero humano, Podles faz essa afirmação para ambos os sexos: “O padrão básico do corpo humano é geralmente feminino” (p. 38);

• Ele afirma que “a presença de mamilos no corpo masculino é um lembrete constante de que o macho é uma variação do tipo feminino básico” (p. 38);

• Ele afirma que “o menino deve alcançar a masculinidade rejeitando a feminilidade e diferenciando-se do feminino ao qual ele tende” (p. 39; 43);

• O mesmo pode ser verificado quando ele argumenta que para as mulheres se tornarem cristãs, elas devem se tornar homens: “O cristão, porque é filho de Deus, tem uma identidade primariamente masculina… Mulheres assim como os homens são chamados para serem filhos de Deus e irmãos de Jesus Cristo ”(p. 87);

• Quando ele fala sobre circuncisão, o androginismo parece também estar presente quando ele declara que “o menino deve sangrar genitalmente, como uma mulher, antes de se tornar um homem” (p. 49).

Então, de acordo com o autor, o filho tem uma atração sexual para a mãe, e vice-versa, os homens deveriam se comportar como mulheres e mulheres deveriam ser como homens. Parece que o Sr. Podles está pagando tributo à tese andrógina da Cabala judaica.

Superficialidade intelectual

O autor cita tantas fontes quantas pode. No entanto, a maioria de suas fontes são comentários de outros autores citando fontes primárias. Ele apresenta algo como fato porque “Tommy escreveu que Susie escreveu que Johnny escreveu isso.”

Tal superficialidade intelectual torna difícil para um leitor avaliar o que a fonte original realmente afirmou e, portanto, levar o Sr. Podles a sério. Ao investigar as fontes originais de suas citações, frequentemente se descobre que esses “fatos” são infundados e contrários à realidade.

Deturpações

OUm exemplo dessas deturpações é quando ele afirma que, de acordo com a tradição católica, a alma é a noiva de Cristo e que “todas as almas são femininas” (p.115). Ele tenta apoiar essa falsa idéia interpretando literalmente algumas textos místicos e metafóricos de São Bernardo de Claraval.

stained glass window of St Bernard

São Bernardo, um dos fundadores dos Templários e pregador das Cruzadas, dificilmente pode ser considerado uma influência feminina

Ele pretende que, ao fazer esses comentários, São Bernardo desencadeou um processo de efeminamento em todo o Cristianismo Ocidental. É contra esse processo imaginário que o Sr. Podles escreve seu livro.

Evito entrar aqui em uma análise detalhada de cada texto de São Bernardo citado. Quero apenas mostrar que o autor de The Church Impotent parece ter uma compreensão muito limitada do papel histórico de São Bernardo.

De fato, além de ser um dos iniciadores da Ordem dos Cistercienses, que se tornou um ramo importante da Ordem Beneditina, São Bernardo foi o inspirador e co-fundador da Ordem dos Cavaleiros Templários, cujo regra ele escreveu. É impossível conceber uma instituição religiosa mais militante e viril que os Cavaleiros Templários. Esses Cavaleiros levaram o caráter combativo da Igreja a um apogeu nunca ultrapassado, graças a São Bernardo.

Ele também foi o pregador da 2ª Cruzada, que ajudou a manter os modelos ideais das Cruzadas e Cavalaria por toda a Cristandade por muitos séculos. Argumentando só por argumentar digo que se os falsos critérios freudianos do Sr. Podles fossem aplicados, São Bernardo deveria ser considerado o propulsor de um processo de masculinização e nunca de efeminamento. É completamente absurdo pretender que São Bernardo foi um homem que desencadeou um processo de efeminamento na Idade Média.

Esse pressuposto do Sr. Podles é construído no ar; sua tese é arbitrária e subjetiva, sem base na realidade histórica.

Independente de quantas citações ele possa amealhar de autores progressistas e protestantes, acredito que nenhum historiador ou pensador honesto pode levar a sério a tese desconjunatada deste livro.

Excentricidades

Ademais, há uma longa lista de outras excentricidades que o Sr. Podles oferece a seus leitores. Cito alguns a esmo:

Medieval depiction of Purgatory

Podles pretende que o Purgatório foi inventado na Idade Média para agradar as mulheres

• A devoção eucarística das mulheres vem de seu “envolvimento íntimo na preparação de alimentos” (pp. 124-125);

• A Maçonaria é boa porque as mulheres não são permitidas e porque promove a fraternidade (cf. pp. 155, 175-176);

• O Escolasticismo representou uma feminização da Igreja (cf. pp. 102, 140);

• Nos escritos teológicos de Tomás de Aquino, "todo o amor pessoal por Deus é excluído" (p. 110-111);

• Depois da Idade Média, a religião tentou castrar os homens (p.113);

• “A espiritualidade erotizada [foi] apresentada como modelo de santidade desde a Idade Média até o presente” (pp. 239, cfr. 34);

• O protestantismo foi uma boa reação contra a feminização da Igreja (pp.139, 152, 153);

• O Sagrado Coração é uma expressão que é “suave, às vezes a ponto de ser efeminada” (p. 123);

• A idéia do Purgatório veio da Idade Média e não do primeiro milênio; foi causada por mulheres (cfr. 128);

• “Um homem pode ser santo ou ele pode ser masculino, mas ele não pode ser ambos” (p. 207).

Conservadores levam à extrema-esquerda

Depois de uma cansativa leitura de 200 páginas, eu me perguntei o que é a solução do Sr. Podles para o suposto efeminamento da Igreja? Sua resposta – e não estou brincando – é que a Igreja deveria ser mais como os escoteiros. (pp. 197, 200) Eis, finalmente, a solução para todos os nossos problemas…

Quando conservadores – incluindo os da direita falsa – – que constituem o público normal de Leon Podles, descobrem que as tradições da Igreja são radicais demais, tentam saciar sua sede indo a outros lugares, até mesmo a fontes contaminadas como The Church Impotent.

Como tal, este livro parece ser um polo para empurrar os conservadores do meio termo para a extrema esquerda, a fim de afastá-los da tradição da Igreja e fazê-los abraçar completamente o Progressismo em suas formas mais medonhas.

Para os leitores realmente compreenderem o efeminamento na Igreja que está acontecendo desde o 19º século, recomendo a leitura dos 11 volumes da Coleção sobre Vaticano II de Atila Guimarães (especialmente os capítulos iniciais do volume 8, Fumus Satanae). Além disso, há artigos bem pesquisados na secção da TIA sobre o Feminismo.

Postado em 11 de dezembro de 2019


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