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NOTÍCIAS: 9 de dezembro de 2020 (publicada em inglês a 9 de novembro de 2020)
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Atila Sinke Guimarães
A FORMA DE FRATELLI TUTTI - Depois de ler a última Encíclica de Francisco, decidi analisá-la sob dois pontos de vista: sua forma e seu conteúdo. O artigo de hoje é dedicado à sua forma; outros artigos seguirão para estudar seus ataques contra o Capitalismo Ocidental, mais especificamente contra a propriedade privada e indiretamente contra a Igreja Militante. Esses, acredito, são os três principais alvos que o Papa Francisco tinha em mente quando escreveu Fratelli tutti.

Papacy

O Papado parecia viver em uma esfera transcendente pairando sobre a História

Há cerca de 56 anos, dediquei minha vida à luta pela defesa da Igreja Católica e da Cristandade. Nos últimos 49 anos essa luta se deu principalmente por meio da escrita. Esses estudos supõem, é claro, muita leitura de documentos papais. Para mim, essa tarefa não foi um sacrifício, pois sou um entusiasta do estilo das encíclicas papais. Até Pio XI o estilo era tão grave, solene e majestoso que convidava o leitor a entrar naquela esfera sublime onde os Soberanos Pontífices pareciam pairar ao longo da História.

Eu diria que o estilo dos documentos papais foi uma das características da autenticidade do papado e uma prova de sua veracidade.

Uma mudança no estilo dos documentos papais

Aqui não é o lugar certo para uma comparação minuciosa, mas eu diria que a magnificência desse estilo atingiu seu ápice com Pio IX e Leão XIII. Ler um de seus documentos para mim foi o mesmo que ver aqueles Papas passarem carregados em sua Sede Gestatoria, vestindo sua Tiara e rodeados por Flabelli.

Acredito que tamanha magnificência ainda pode ser notada nos documentos de Pio XI, como eu disse.

Pope Pius XII

Embora fraco, Pio XII ainda mantinha as aparências de um grande Papado

Uma mudança aconteceu nos documentos de Pio XII. Como quase tudo durante o pontificado de Pio XII, houve uma perda de densidade. A maioria de seus documentos continuava a ser ortodoxa - Graças a Deus! - mas sua preocupação em aparecer e estar presente em todas as frentes do mundo moderno e dar uma orientação fez com que o Papado parecesse menos solene do que antes. Como diz a máxima de vários séculos, assueta vilescum, o que se torna habitual torna-se banal.

Mas a casca de ovo do estilo grandioso de outros tempos ainda estava lá.

João XXIII e Paulo VI, dois partidários indiscutíveis do Progressismo, aproveitaram-se de seus papéis como Papas para fazer avançar o Socialismo sob o disfarce da doutrina Católica. Mater et Magistra (1961) e Populorum Progressio (1967) fez mais para atingir essa meta em seis anos do que a Revolução havia realizado nos 600 anos anteriores. Claramente, o estilo de seus documentos sofreu, embora uma certa classe ainda estivesse presente.

Sob João Paulo II, os documentos papais entraram na fase de produção em massa. A produção escrita de João Paulo II foi tão extensa e desproporcional ao ensino papal anterior que muito poucas pessoas no mundo puderam seguir o que ele assinou. Essa hemorragia de literatura fez muitas pessoas duvidarem se JPII realmente escreveu aqueles documentos ou mesmo leram o que ele assinou. Não é necessário enfatizar que o estilo papal solene mergulhou ladeira abaixo. Além disso, para “democratizar” a Igreja, ele aboliu o belo e majestoso plural “Nós” e introduziu o “Eu” comum na linguagem papal escrita e falada.

John Paul II

Com JPII, o homem parou de refletir o papado; o papado passou a refletir o homem

Acredito que o assassinato do estilo magnífico nos documentos papais deve ser creditado ao Papa João Paulo II.

A partir daí, os Católicos deixaram de ouvir aquela voz transcendente e gloriosa vinda do Vaticano que ecoava todos os ensinamentos papais da História. Em vez disso, eles ouviram a voz de um homem sozinho, Karol Wojtyla, o ex-Arcebispo de Cracóvia.

A imprensa Italiana passou a chamar os Papas Conciliares pelos seus nomes pessoais - Papa Roncalli, Papa Montini, Papa Wojtyla etc, e logo este hábito foi adotado também pela imprensa Católica, por exemplo, L’Avvenire e L’Osservatore Romano. Creio que, inconscientemente, agiram corretamente: não vemos mais a grandeza do Papado representada por eles, mas sim suas características pessoais, qualidades e defeitos.

O mesmo continuou a ser verdade para os próximos Papas. Em Bento XVI ouvimos o velho professor Alemão, não o mítico Papa; em Francisco I ouvimos o não tão culto ex-Arcebispo de Buenos Aires.

Considero que é meu dever ler os documentos papais. Quanto à produção literária do Papa Bergloglio, cumpro esse dever com aversão. Visto que aprecio a boa literatura, ler as obras de Francisco é um sacrifício para mim. Espero que Deus conte com este esforço para encurtar meu tempo no Purgatório, se eu tiver a sorte de chegar lá.

O estilo de Fratelli tutti

Infelizmente, o estilo de Fratelli tutti não é uma exceção a essa regra.

Primeiro, o documento é desnecessariamente longo. A exposição é pesada e repetitiva. Se o Papa Francisco é descuidado em seus pensamentos preconceituosos, ele deveria pelo menos ter o cuidado de organizá-los um pouco ao ensinar um bilhão de Católicos.

Em segundo lugar, não era incomum que os Papas pré-conciliares citassem a si mesmos. Mas, quando o fizeram, a repetição foi uma insistência prudente em um ensino necessário, indispensável para os Católicos. Essas repetições tiveram o cuidado de não dar a impressão de falta de humildade.

JPII mudou essa regra. Ele habitualmente citava seus documentos anteriores. Com ele a humildade abandonou a Sé de Pedro e o egocentrismo tomou o seu lugar.

Agora então, em Fratelli tutti, o Papa Francisco quebrou todos os recordes anteriores de megalomania: em um documento de 287 parágrafos, ele citou a si mesmo 168 vezes, se eu contei corretamente; isso se traduz aproximadamente em uma média de citar a si mesmo duas vezes a cada três parágrafos. Acredito que esse número revela mais do que megalomania; estamos observando um fenômeno de Narcisismo crítico.

Pope Francis

Um Bergoglio ressentido e vingativo presta muita atenção a qualquer um que fale contra ele

Terceiro, o Papa Bergoglio adquiriu a fama de ser uma autoridade despótica e vingativa. Sua posição constante de castigar as ordens religiosas tradicionalistas ou conservadoras é um exemplo desse despotismo. Os violentos castigos do Card. Burke e Card. Pell, depois que eles emitiram críticas públicas às suas inovações papais, são exemplos pungentes de sua vingança habitual. Além disso, sua interferência arbitrária na Ordem de Malta e o descarte de seu Grão-Mestre valeram-lhe o título de O Papa Ditador, que na verdade é o nome de um livro escrito por um membro da Ordem.

Tendo adquirido com justiça a fama de ser um Papa despótico, é particularmente abominável vê-lo atacar ferozmente nos outros os mesmos defeitos que diariamente discernimos em sua conduta. Com efeito, na sua nova Encíclica, ao criticar aqueles que assumem posições rígidas nas redes sociais, afirma que "desacreditam e insultam os seus adversários desde o início, atribuindo-lhes epítetos humilhantes em vez de se empenharem num diálogo aberto e respeitoso que visa um acordo mais profundo.”

Ele continua: “A discussão é frequentemente manipulada por poderosos interesses especiais que procuram transformar a opinião pública injustamente em seu favor.” (§ 201, edição Italiana de L’Osservatore Romano, 4 de outubro de 2020)

Agora, eu pergunto, quando Francisco rotula os tradicionalistas com muitos epítetos desdenhosos, ele não pratica os mesmos vícios que critica tão amargamente nos outros? Quando se recusou a responder à Dúbia dos quatro Cardeais, não estava evitando “um diálogo aberto e respeitoso”?

Como devemos qualificar um homem que pratica exatamente o mesmo comportamento despótico que ele condena nos outros? Hipócrita é a palavra que me vem à mente.

Quarto, como mostrado acima, além de ser despótico, o Papa Francisco também é ressentido e implacável. Mas este mesmo homem acredita que pode ensinar ao mundo sobre a caridade, o amor e o perdão (cf. §§ 183-187, 194-195, 246-254). Novamente, é muito difícil evitar a conclusão de que ele é um hipócrita.

Estas são algumas observações que me ocorreram a respeito da forma de Fratelli tutti. Espero voltar em breve para estudar mais especificamente seu conteúdo.

Continua