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Santa Felicidade - 23 de Novembro

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
Nota: Em 10 de julho, a Igreja comemora a festa dos Sete Filhos de Santa Felicita, ou Santa Felicidade de Roma, e sua festa em 23 de novembro. A TIA publicará o mesmo texto para ambas as datas.

Seleção Biográfica de São Gregório Magno:

Homilia sobre Santa Felicidade: Considerai, queridos irmãos, o coração deste homem no corpo de uma mulher. Antes da morte ela ficou sem medo. Ela temia perder a luz da verdade em seus filhos se os mantivesse vivos.

st felicitas and her seven martyr sons

Santa Felicidade encorajou cada filho a morrer bem

Devo chamar essa mulher de mártir? Ela é mais que uma mártir, pois morreu sete vezes antes de sua própria morte, por cada um dos sete salários de amor que enviou para precedê-la no Reino. A mãe viu a morte dos filhos com muito sofrimento, mas sem medo. Ela misturou a alegria da esperança com a dor da natureza. Ela temia que eles vivessem, ela se alegrou com a morte deles. Ela não queria deixar nenhum depois dela, para que, para preservar um deles como sobrevivente, ela não pudesse mantê-lo como companheiro no Céu.

Que nenhum de vocês imagine, queridos irmãos, que vendo seus filhos morrerem, o coração desta mãe não vibrou com ternura natural. Seus filhos, que ela sabia serem sua própria carne, ela não podia deixar de vê-los morrer de dor, mas ela tinha dentro de si um amor forte o suficiente para superar a dor da carne. Felicita amava seus filhos como a natureza pretendia, mas por causa da pátria celeste, ela desejava que aqueles que ela amava morressem, e mesmo em sua presença. Foi ela quem sentiu suas feridas, mas foi ela quem se multiplicou, por assim dizer, na pessoa dos filhos que a precederam ao Reino.

Com razão chamo essa mulher mais que mártir, pois em seu ardor ela morreu em cada um de seus filhos e, assim, atingindo um martírio multifacetado, levou consigo uma palma que excede a dos mártires.

Os antigos tinham o costume de que o cônsul ocupasse o cargo por um período fixo de tempo. Mas se um deles se tornasse cônsul pela segunda ou terceira vez, superava em louvor e dignidade aqueles que o haviam ocupado apenas uma vez. Portanto, a Beata Felicita superou os mártires em sua glória, pois morreu tantas vezes quanto os filhos que teve, que morreram por Cristo antes dela. Seu amor por Deus era tal que sua própria morte estava longe de ser suficiente.

Comentários de Dr. Plinio:

Aqui vocês tem um texto de grande elevação escrito por um Pai e Doutor da Igreja, o Papa São Gregório Magno (590 a 604).

Ele conta que diante da possibilidade de ter seus filhos mortos, Santa Felicidade temia mais pela perda de sua fé do que pela perda de suas vidas.

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'Meus filhos viverão para sempre se, como eu, desprezarem os ídolos e morrerem por seu Deus'

Ele a chama mais que mártir porque cada vez que um de seus filhos ia diante do tirano, o prefeito Publius, ela morria com ele. Ela contemplou suas mortes sem terror, de pé sem medo.

Ela sofreu a dor natural de ver seus filhos sendo mortos um a um diante de seus olhos, mas São Gregório diz que ela superou essa dor da natureza com o valor da esperança cristã. Ou seja, ela tinha a certeza de que seus filhos morreriam e iriam para o Céu. Foi assim que ela venceu sua dor natural.

Ele diz que ela temia que eles vivessem e se alegrou com a morte deles. É um pensamento bonito, porque se eles vivessem, viveriam como apóstatas; assim ela temeu que eles vivessem, e ela se alegrou com suas mortes porque eles morreram como mártires e ganharam o Céu.

Ela sabia que seria morta logo depois de seus filhos, então pensou: “Desejo que nenhum deles sobreviva porque todos serão meus companheiros no céu.” O contrário também é verdadeiro: “Se meus filhos permaneceram na terra é porque apostataram. Eu não quero isso.”

Em seguida, São Gregório se dirige ao público e explica que ela tinha um instinto maternal natural. Há muito equilíbrio católico nessa posição. Admira-nos ver uma mãe que, depositando toda a sua esperança no Céu, vê morrer todos os seus filhos diante dos seus olhos. Mas, por outro lado, ela não perde seu instinto maternal que causa sofrimento; caso contrário, sua ação nos horrorizaria.

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Seu coração materno sofreu:
Uma mãe sete vezes mártir!

São Gregório sabe mostrar esta obra-prima do equilíbrio que é a santidade católica: por um lado, o coração bate dolorosamente porque a mãe vê o filho morrer; por outro lado, vibra uma alegria católica porque a mãe vê o filho a caminho do Céu. Essa mesma mãe vê então chegar o momento de ela morrer e juntar-se aos filhos no Céu. Vocês veem como ele aborda o tema com grande elevação e um grande equilíbrio.

São Gregório então tem outro belo pensamento: Cada ferida que um filho recebia, ela sentia aquela dor em si mesma. Por outro lado, porém, foi ela quem gerou aqueles filhos, que os formou para o Céu, ela foi a fonte de perseverança desses filhos. Para que cada vez que uma criança entrasse no Céu, ela entrava com essa criança. Vocês veem como isso é diferente do sentimentalismo vazio de outras biografias de Santos. Este comentário é ricamente concebido e teologicamente dito com grande eloquência.

Ela era mais do que uma mártir. Hoje diríamos que ela bateu o recorde de martírio porque foi sete vezes mártir.

Ele usa uma bela analogia extraída do protocolo romano. O cônsul era um magistrado semelhante, mas com maior dignidade do que um presidente de república hoje. Então, assim como um ex-presidente goza de certas honras pelo resto de sua vida, também um homem que foi cônsul gozou de honras e de um status superior aos demais cidadãos durante toda a vida. Mas se um homem fosse cônsul duas ou três vezes, teria honras e dignidades ainda maiores do que aqueles que foram cônsules apenas uma vez.

Ele aplica essa analogia a Santa Felicidade, dizendo que ela foi mártir sete vezes, então ela merece a honra do martírio sete vezes. É assim que ele termina seu comentário.

Lamento que a necessidade de traduzir suas palavras para uma linguagem mais contemporânea nos prive da acuidade das grandes habilidades oratórias de São Gregório Magno. Mas pelo menos podemos vislumbrar seus pensamentos altíssimos sobre um fato de grande importância.

Seus pensamentos nos dão o que deveria ser uma das notas características de nossa formação: o amor à grandeza. O mundo de hoje é um mundo igualitário, um mundo que odeia todos os tipos de grandeza. Com toda a sua energia tende para o que é vulgar, grosseiro e corrupto. Tem antipatia por tudo que afirma grandeza.

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A pregação de São Gregório, elevada e sublime

Há uma grandeza egoísta que existe apenas para o benefício dos grandes; isso não é grandeza católica. Deus é o Modelo e Autor da grandeza. Portanto, quando a grandeza se dirige ao serviço da causa de Deus e não ao gozo egoísta, deve ser amada por cada alma bem formada e verdadeiramente católica.

A grandeza católica não é a grandeza gerada pela riqueza de um bilionário que é grande porque tem sacos de ouro. Esta é uma grandeza composta apenas de matéria, que não é grandeza católica. A grandeza católica é do espírito, da virtude, da tradição, da história, esta é a verdadeira grandeza. Esta é uma imagem da Grandeza Divina. A alma modelada pelo espírito católico deve amar essa grandeza.

Essa grandeza, porém, é sacrificial porque quem a tem, se é verdadeiramente católico, vive em estado de holocausto contínuo, sempre se esforçando para não tirar proveito dela, para não se apegar a ela egoisticamente. Ele o tem apenas para servir a Deus Nosso Senhor, Nossa Senhora e a Santa Igreja Católica, e está pronto para deixá-lo de lado a qualquer momento, se for necessário. Prefere mesmo, se esta for a vontade de Deus, afastar-se dessa grandeza a tê-la, porque, como dizia Santo Inácio, em igualdade de condições devemos preferir ser pobres a ser ricos, ser atacados ao invés de ser glorificado, estar doente ao invés de ser saudável, e ser pequeno ao invés de ser grande.

Quando uma pessoa tem este tipo de grandeza sacral e sacrificial, temos uma verdadeira imagem do Cordeiro de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, que foi a própria Grandeza, e a quem devemos seguir e imitar.

É para esta visualização da grandeza como um valor metafísico e sobrenatural que esta meditação sobre o martírio de Santa Felicidade conduz. Ela exibe um enorme heroísmo, uma extraordinária grandeza de alma, que é cantada e elogiada por um homem de talento prodigioso, um talento grandioso colocado a serviço da causa católica; tal foi São Gregório Magno.

Aqui vocês veem um dos aspectos magníficos da Igreja Católica. Ela é uma Rainha sempre transbordante de grandeza. Por mais que o progressismo tente desfigurá-la e apresentá-la como proletária, ela nunca será isso.

Na grandeza bondosa da Igreja e na contínua efusão do Sangue de Cristo que a Igreja faz na Santa Missa, vemos a grandeza sacral e sacrificial da Igreja Católica.


Tradition in Action



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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.

Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.