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O Santo do Dia

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Beato Carlos, o Bom - 2 de Março

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira

Seleção Biográfica:

Carlos (1083-1127) era filho de São Canuto (ou Knud), Rei da Dinamarca. Seu pai foi assassinado quando Carlos tinha cinco anos, e sua mãe, Adele, o levou à corte de seu pai, o Conde de Flandres, em Bruges. Carlos tornou-se cavaleiro e acompanhou seu tio na Segunda Cruzada para recuperar a Terra Santa dos mouros. Ao retornar, ele recebeu o Condado de Flandres de seu primo Balduíno.

O Conde Carlos tinha um amor profundo pela justiça. Todos os dias, depois do jantar, ele se encontrava com três teólogos que explicavam dois ou três capítulos das Escrituras, lições que ele ouvia com grande prazer. Ele amava tanto o nome de Deus que proibia qualquer um de seus súditos de blasfemar ou usar o nome de Deus em vão. A punição por blasfemar era perder uma mão ou um pé. Seu amor pela justiça fez dele o terror dos malfeitores que oprimiam os pobres, as viúvas exploradas e os órfãos perseguidos.

The murder of Blessed Charles the Good

Carlos, o Bom, foi assassinado enquanto rezava diante de um altar de Nossa Senhora

Ele adquiriu uma reputação tão grande por justiça e bondade que quando o trono imperial ficou vago, foi oferecido a ele. Ele recusou, como havia se recusado antes a ser o Rei de Jerusalém. Ele recusou a homenagem porque precisava de tempo para cuidar de seu povo em Flandres.

Quando soube que certo burguês de alto escalão havia estocado uma grande quantidade de grãos para vender a preços exorbitantes, obrigou-os a vendê-los imediatamente a um preço justo. Isso despertou sua fúria e os líderes dos exploradores formaram uma conspiração para assassinar o Conde.

O Beato Carlos costumava ir à Missa todos os dias na Igreja de São Donato, perto de seu castelo. Numa manhã de 1127, Borchard, sobrinho de um dos líderes da trama, atacou e decapitou Carlos no momento em que ele estava ajoelhado e rezando sozinho diante do altar de Nossa Senhora.

Comentários do Prof. Plinio:

A primeira coisa que se nota nesta seleção é o ódio que o Beato Carlos de Flandres inspirava entre os seus inimigos por ser um representante da virtude da justiça, especialmente no caso dos grãos acima referido. Ele morreu como testemunha da justiça católica porque se esforçou para instalar uma ordem civil que seguisse os preceitos de Nosso Senhor.

Um ponto que devemos considerar hoje é que na Idade Média, o título “o bom” que segue o nome de Carlos referia-se não apenas às características de caridade de uma pessoa, como seria hoje, mas também à sua justiça, ao seu zelo em defendendo a boa causa. Hoje, “o bom” se refere ao homem que dá esmola aos pobres. Naquela época, porém, o termo tinha um sentido mais amplo que é útil para nós lembrarmos.

Além disso, devemos compreender que ser um Príncipe da Dinamarca naquela época era muito menos do que ser um Conde de Flandres. A monarquia dinamarquesa foi considerada uma monarquia de segunda classe. O povo e outros reis não se referiam ao rei dinamarquês como Sua Majestade, mas como Sua Alteza, que normalmente é o título dado a príncipes, não a monarcas. O monarca dinamarquês só foi reconhecido como Sua Majestade no século 18 por Luís XIV em uma iniciativa censurável; os outros reis então seguiram seu exemplo.

Houve um bom motivo para essa exclusão. A Dinamarca era um reino semibárbaro, no qual o ambiente normalmente era de paixões desenfreadas, comportamento imprudente e hábitos bárbaros. Digo isso não para menosprezar a Dinamarca, mas para demonstrar que a família do Beato Carlos teve grande valor em ser fiel aos princípios católicos, permitindo que a fé governasse a razão e a razão subjugasse as paixões. Esta descrição da vida de Carlos de Flandres mostra como a fé governou completamente sua razão e más tendências.

Ao contrário do reino dinamarquês, o Condado de Flandres era muito civilizado, com alto nível cultural. Também era muito rico. Teve grande importância política na Europa daquela época. Após a morte de seu pai, Carlos foi para lá com sua mãe Adele, que era da família de Flandres. Dos cinco anos em diante, recebeu sua formação na corte de Flandres.

Tornou-se cavaleiro e dedicou a vida à defesa da Igreja e da causa católica, acompanhando o tio na Cruzada. Ele teve, portanto, a glória de lutar pela defesa da Terra Santa. Ao retornar, ele herdou o trono do Condado de Flandres e embarcou em um novo curso de ação, não mais como guerreiro, mas como governador.

Castle Gravensteen, Flanders

O Castelo de Gravensteen, do século 12, em Flandres

Vaulted interior of Castle Gravensteen

Como governante, ele se distinguiu por sua admiração pelas Sagradas Escrituras. Ele não era o tipo de homem com obsessão apenas por coisas práticas, vivendo exclusivamente para governar.

Ele sabia como manter uma distância psicológica dos assuntos absorventes do dia-a-dia. Depois do jantar, à noite, recebia a visita de três teólogos especialistas em Letras Sagradas. Carlos queria saber sobre as coisas de Deus.

Esses eclesiásticos liam, comentavam e discutiam esta ou aquela parte das Escrituras com ele.

Os senhores podem imaginar a cena. É noite no castelo do Conde de Flandres: lá fora reina um silêncio completo; apenas o som de um guarda em sua ronda pode ser ouvido de vez em quando.

Lá dentro, em um grande salão, a lareira está acesa. Sentados em algumas grandes cadeiras esculpidas estão o Conde e seus três teólogos, junto com alguns membros da família que permaneceram para ouvir e aprender em silêncio. Os religiosos têm um daqueles livros das Escrituras grandes, pesados e lindamente escritos à mão, que foi colocado em um pedestal. Um deles vai até o púlpito, lê um trecho e retorna ao seu lugar.

Calmo e elevado, o comentário e a discussão que se seguem são voltados para a compreensão dos desígnios de Deus e Nossa Senhora para a humanidade e como colocá-los em prática. Nessas noites, pode-se dizer que o Céu abraça a terra e prepara esses homens santos para o repouso noturno e o trabalho e a luta do dia seguinte. A vida naquele castelo era nobre e bela nessas noites, muito diferente das malditas e atormentadas noites pagãs de nossos tempos.

Seu zelo em defender o nome de Deus o levou a promulgar uma lei que punia um homem que blasfemava, perdendo a mão ou o pé. Ele era um santo e sabia bem o que fazia. Com a mentalidade de hoje, impregnada de liberalismo e sentimentalismo, muitas pessoas pensam que isso é cruel e errado. Mas esse não foi o pensamento do Beato Carlos. Ele considerou que essa medida seria um grande bem para os culpados, bem como para a opinião pública em seu Condado. Ele estava certo.

Alguém que cometeu esse crime e foi punido levaria a marca de seu pecado e castigo por toda a vida para lembrar a ele e à sociedade quão ruim foi sua ação. Foi uma graça para ele ser punido nesta vida, e não na próxima. Hoje as pessoas não consideram os castigos do Purgatório e do Inferno que certamente enfrentaremos, a menos que façamos expiação nesta vida. Por esta razão, eles carecem de um ponto de referência indispensável para fazer um julgamento justo sobre o que é um castigo apropriado.

Carlos teve o cuidado de proteger os pobres, as viúvas e os órfãos, porque o poder supremo de um Estado deve zelar por aqueles que nada têm. Sua fama por cuidar de seu povo o tornou tão celebrado que foi convidado a se tornar Imperador. Era a maior dignidade temporal da terra, mas ele recusou, assim como havia se recusado antes a ser Rei de Jerusalém.

Alguém poderia me perguntar: mas não teria sido melhor para a causa católica ter um santo como imperador? Então, por que ele não aceitou? Em princípio, isso é verdade. Mas Deus tem um plano diferente para cada um de nós. Carlos provavelmente recebeu uma inspiração que o fez conhecer a vontade de Deus para ele.

Em seguida, há o episódio de sua morte brutal, refletindo o ódio dos filhos das trevas pelos filhos da luz. Depois de uma vida cheia de batalhas, bons atos de governo e oração e meditação, uma morte repleta de méritos veio a ele. A palma do martírio coroou sua vida enquanto ele rezava diante do altar de Nossa Senhora.

Peçamos ao Beato Carlos, o Bom, que nos fortaleça para suportar o ódio, a perseguição, as calúnias, as artimanhas e o silêncio que os inimigos da Igreja - que se infiltraram em seu seio - hoje empregam contra nós. Peçamos-lhe que nos prepare, por intercessão de Nossa Senhora, para seguir a vontade de Deus para cada um de nós - na batalha, no trabalho, no comando, na oração, na obediência ou mesmo no martírio.


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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.

Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.



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