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O Santo do Dia

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Santa Marciana - 7 de Janeiro

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira

Seleção Biográfica:

No final do século 3, em Rusuccur, pequena cidade da Mauritânia, Argélia, vivia uma jovem chamada Marciana, tão piedosa como bela. Ainda muito jovem, ela consagrou sua virgindade a Deus, e abandonou tudo para viver em uma caverna perto daquela cidade romana.

Um dia, certamente movida por alguma inspiração divina, ela deixou sua cela para caminhar entre a multidão agitada e inquieta daquela cidade, pois era a época da sangrenta perseguição aos cristãos feita por Diocleciano em todo o Império Romano.

Goddess Diana

Deus deu a Santa Marciana a força para destruir a estátua da deusa Diana - Museu do Louvre
Entrando na cidade pela porta de Tipasia, Marciana viu uma estátua de mármore da deusa Diana no meio de uma praça. A seus pés corriam águas límpidas em uma piscina também de mármore.

A brava virgem não suportou ver aquele ídolo impuro. Ela deu um passo à frente e jogou o ídolo de sua base, quebrou sua cabeça e quebrou a estátua inteira em pedaços.

Uma turba furiosa arrastou-a para o Pretório diante de um magistrado imperial. A virgem cristã ria dos deuses de pedra e de madeira e glorificava o Deus verdadeiro que ela adorava. Em altas e eloquentes palavras, ela O louvou ali no Pretório.

O juiz pagão a entregou aos gladiadores para que sofresse abusos infames à vontade deles. Marciana permaneceu sem medo e serena. Durante três horas, os gladiadores ficaram imóveis por um terror desconhecido e não conseguiram tocar na virgem. Por meio de suas orações, um deles se converteu e professou Jesus Cristo como o verdadeiro Deus.

Confuso com o desenrolar dos acontecimentos, o juiz permaneceu firme em seu ódio. Incapaz de desonrar a virgem, ele a condenou a ser despedaçada pelas feras.

Quando chegou a hora, ela entrou na arena para uma festa alegre, dando louvor e graças a Jesus Cristo. Ela foi amarrada a uma estaca e um leão foi colocado sobre ela. A fera, entretanto, se aproximou dela, tocou seu peito com as garras e então se retirou como se tivesse sido movida por uma força mais forte.

Lion in arena

Santa Marciana não foi ferida pelo leão na arena
Em admiração, a população gritou em voz alta exigindo que ela fosse libertada. Mas um grupo de judeus que fazia parte da multidão, sempre sedento de sangue cristão, mudou o ânimo da multidão ao exigir um touro selvagem. A fera chifrou o peito de Marciana abrindo uma terrível ferida.

O sangue escorreu e Santa Marciana caiu na areia em agonia. Os criados a removeram da arena, contiveram a hemorragia e alimentaram a pouca vida que restava para ela.

O juiz, porém, pediu que ela fosse amarrada à estaca novamente. Ela ergueu os olhos para o Céu, um sorriso iluminando seu rosto marcado pelo sofrimento, e pronunciou suas últimas palavras:
Ó Cristo, eu Vos adoro e amo. Vós estivestes comigo na prisão e me manteve pura. Agora me chamas - ó meu Divino Mestre - e vou feliz para Vós. Receba minha alma.
Depois que ela disse essas palavras, um leopardo feroz a rasgou, abrindo a estrada do Paraíso para ela.

Comentários do Prof. Plinio:

É uma seleção belíssima que merece alguns comentários de uma perspectiva diferente da primeira que aparece.

O que vemos à primeira vista é o espetáculo de um heroísmo extraordinário, surpreendente e milagroso. Marciana era uma eremita perto de uma pequena cidade no norte da África durante uma época em que aquela região era formada por colônias romanas tão latinizadas como a Europa Oriental.

Santa Marciana, como o nome indica, era provavelmente uma jovem latina. Um dia, tocada pela graça, ela foi para a cidade e encontrou uma estátua de Diana, deusa da caça, colocada sobre uma fonte em uma praça pública. Ela foi dominada por uma justa ira contra aquele ídolo, um símbolo que afirma uma religião oposta à religião de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Neste episódio, Santa Marciana revelou uma força que não é natural. A seleção a apresenta como graciosa e bela, o que normalmente supõe fragilidade na mulher. Mas ela se tornou forte o suficiente para empurrar o ídolo de sua base, separar a cabeça do corpo e quebrar a estátua inteira em pedaços.

Ruins of coliseum

Ruínas mostrando o subsolo de um anfiteatro Romano onde animais selvagens eram mantidos
Do ponto de vista romano, esse foi um grande crime. Para um pagão, uma estátua não é apenas uma representação do deus, mas o próprio deus. Eles imaginam que o deus está dentro do ídolo, por isso são chamados de idólatras.

Então, cheia de um belo espírito épico, ela empurrou o ídolo para o chão. A frágil, jovem e recolhida eremita foi à cidade cumprir uma tarefa que os fortes católicos não tiveram coragem de fazer: ela quebrou o ídolo em pedaços.

Em seguida, ela se apresentou ao magistrado tirânico que, em nome do Imperador Diocleciano, estava condenando todos os católicos à morte. Ela enfrentou a morte com serenidade. Aqui também ela deu uma demonstração da força de Deus.

Em seguida, o magistrado a entregou aos gladiadores, pessoas do nível mais baixo, para abusar dela como desejassem. Algo realmente incrível aconteceu. Ela amava a virgindade acima de tudo na terra, mas permaneceu serena naquela situação angustiante.

Por três horas, aqueles homens fortes o suficiente para fazer o que quisessem ficaram imóveis e não podiam se aproximar dela. Uma força misteriosa os impediu. Um desses gladiadores se converteu, confirmando a presença sobrenatural de Deus.

Então, o juiz a condenou a ser morta por feras na arena. Um leão se aproximou dela, mas apenas a tocou e foi embora. Foi mais uma intervenção de Deus. A população sentiu isso e pediu clemência.

Mas os judeus, sempre especialistas em manobrar a opinião pública, criaram uma agitação que moveu a inconstante multidão da clemência à expectativa de outro espetáculo. Eles pediram que um touro entrasse na arena contra ela.

O que a ferocidade pagã não conseguiu, a perfídia judaica conseguiu fazer. Deus defendeu Santa Marciana contra o primeiro; Ele não a defendeu dos judeus. Com um golpe forte, o touro a feriu. O sangue-púrpura daquela donzela jorrou abundantemente da ferida.

Alguns tentaram salvá-la, mas sem sucesso; um leopardo foi solto e a matou. Ela morreu com alegria, chamando o nome de Deus Nosso Senhor e anunciando sua entrada no Céu.

É o que se vê à primeira vista no episódio.

Aprofundando a análise

Mas podemos ir mais fundo. Qual o significado da epopeia de Santa Marciana? Foi apenas uma manifestação da Fé católica ante o paganismo?

Deus operou uma série de milagres por meio dela. Esses milagres deveriam dar testemunho da verdade da Fé católica e contribuir para a conversão dos povos da bacia do Mediterrâneo. A grande obra da Igreja nos primeiros séculos foi a conversão daqueles povos mediterrâneos. As tribos germânicas bárbaras se converteriam mais tarde. E deles vieram a Idade Média e a civilização cristã.

Triumph of Faith

O Triunfo da Fé de Eugene Thirion, século 19
Os Apóstolos que pregaram nos confins do mundo não foram recebidos pelos povos aos quais se dirigiam. São Tomé foi para a Índia, São Marcos para a Etiópia, outros para diferentes lugares. Suas missões foram total ou parcialmente rejeitadas.

Porém, por um desígnio especial da Providência Divina, o enorme número de mártires em todo o Império Romano e a incrível quantidade de milagres relacionados com suas mortes serviram para converter aqueles povos da bacia do Mediterrâneo.

Os milagres foram mais do que simples fatos - o leão se aproximou de Santa Marciana, mas não conseguiu devorá-la, os gladiadores não conseguiram abusar dela etc. Esses milagres revelaram a beleza da doutrina católica, a beleza da civilização católica por vir.

Seria a civilização da virgindade diante da concupiscência; a civilização dos fracos dominando os fortes, a matéria que dirige o espírito; a civilização criada por quem sabe que nada é impossível para quem tem fé. Tudo o que é frágil, verdadeiro e digno passaria a dominar o que representava a força material bruta.

Depois do pecado original, a força bruta costumava dominar, mas a partir daí a lei mudou. No martírio de Santa Marciana tocou o sino de uma nova era histórica. Este é o significado mais profundo da epopeia de Santa Marciana.

Por que a Igreja precisa de mártires?

Procession of Virgins

A Procissão das Virgens Mártires nas paredes de Sant'Apollinare Nuovo em Ravenna, Itália

Alguém poderia perguntar: Por que Deus não permitiu que aqueles mártires vencessem a luta contra o paganismo? Por que tantas pessoas morreram sem fazer resistência? Por que tantos milagres não alcançaram a vitória?

Uma das evidências indiscutíveis de que nossa Fé católica é verdadeira é o testemunho dos mártires. Essa prova permanecerá até o fim dos tempos.

Não se tratava apenas de vencer, mas de dar uma prova da Fé para os séculos futuros.

Os fatos relatados no Evangelho sobre a vida e o ensino de Nosso Senhor foram testemunhados por muitas pessoas. Essas pessoas foram dispersas por todo o Império Romano pela pressão exercida por Vespasiano, Tito e Adriano sobre a nação judaica.

Alguns desses judeus se tornaram católicos, mas outros se tornaram nossos piores inimigos. Com as suas calúnias, fingiram que a vida e a doutrina de Nosso Senhor eram falsas. Fazendo isso, eles queriam levantar inseguranças naqueles que acreditavam que o Evangelho era verdadeiro e fazer o Catolicismo parecer uma pequena seita.

Deus chamou os mártires para contra-atacar esta ofensiva e para afirmar até o fim do mundo que Jesus Cristo e sua doutrina são verdadeiros e que a Igreja Católica é a única religião verdadeira. Esses mártires acreditaram tão firmemente nessas verdades que morreram dando testemunho delas.

Eles se deixaram matar sem revidar para provar que a fé católica é verdadeira. Não há prova melhor. Pascal costumava dizer: “Acredito nas palavras de quem se deixa mutilar.” Ele estava certo. Para confirmar a verdade da Fé Católica, os mártires se deixaram dilacerar e mutilar.

Com isso, pode-se entender por que a Providência Divina deu a essas pessoas um heroísmo que não era para contra-atacar e conquistar, mas para suportar as afrontas e morrer. Esses milhões e milhões de mártires que tiveram tanta certeza na Fé Católica oferecem uma prova irrefutável.

Por isso a Divina Providência deu a Santa Marciana forças para derrubar o ídolo e destruí-lo, mas não deu a ela força para jogar o magistrado romano no chão e matá-lo. Foi necessário que ela primeiro resistisse milagrosamente às provações e depois morresse. Enquanto ela estava quebrando o ídolo e resistindo, ela provou que Deus estava com ela. Dada a prova, chegou o momento de ela dar testemunho da fé. Então ela morreu como uma mártir e seu exemplo passou para a história. Este episódio nos oferece uma perspectiva mais ampla: mostra como Deus agiu sobre a opinião pública na História.

Rezemos a Santa Marciana, pedindo-lhe que nos ajude a sermos fiéis à nossa vocação contra-revolucionária como ela o foi à sua vocação de mártir.


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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.

Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.



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