Seleção Biográfica:
Ângelo, que seria o grande apóstolo do Sul da Itália, nasceu em 1669 em Acri, Calábria. Ele era filho de um trabalhador manual. Entrou para os Capuchinhos e foi missionário por 40 anos até sua morte em 1739.
Bem-aventurado Ângelo de Acri
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Seus sermões atraíram milhares e o número de conversões que realizou foi impressionante. Ele recebeu uma graça especial para combater o mal dos erros da filosofia daquele século. Seu primeiro sermão deveria ser pregado na Quaresma, e Ângelo passou muito tempo estudando e se preparando para ele, planejando sua pregação no estilo oratório floreado da moda na época. Quando subiu ao púlpito para dá-lo, esqueceu-se completamente do texto. Foi um fracasso total.
Ele voltou ao seu mosteiro natal e rezou a Deus para ajudá-lo a saber o que se esperava dele. Então ele ouviu uma voz que lhe disse: “Eu sou Aquele que É. Não tenha medo. Eu lhe darei o dom das palavras, e suas obras não serão fúteis. De agora em diante, pregue em um estilo simples e coloquial para que todos possam entender você.” Ângelo queimou os sermões que havia preparado e fez novos seguindo esta diretriz.
Sua vida foi repleta de obras frutíferas e milagres. Ele costumava cruzar rios e riachos sem molhar os pés; outras vezes, ele viajava longas distâncias em um tempo miraculosamente curto para ouvir confissões de pessoas enfermas ou pregar em aldeias distantes. Ele ficou cego seis meses antes de sua morte, mas recuperaria a visão para celebrar a Missa e rezar o Ofício Divino.
Em 30 de outubro de 1739, aos 70 anos, ele entregou sua alma ao Criador, a Quem ele havia servido incansavelmente.
Comentários do Prof. Plinio:
A vida do Bem-aventurado Ângelo de Acri nos oferece o perfil do missionário Capuchinho que se tornou famoso, porque aquela Ordem deu à Igreja muitos pregadores como ele. A Ordem Capuchinha foi um dos exércitos mais vanguardistas e eficientes da Contra-Revolução na Igreja durante o século 18.
Os fiéis podem visitar a cela do Bem-aventurado Ângelo em Acri, e venerar o crucifixo milagroso, logo abaixo, que falou ao Santo
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Para compreender a vocação do Bem-aventurado Ângelo, parece útil resumir as qualidades e os defeitos do século 18 e ver como a Ordem Capuchinha teve uma missão especial naquela época.
No final do século 18, em 1789, a Revolução Francesa ocorreu na França e durou até a derrota de Napoleão em 1815. Foram, portanto, cerca de 25 anos de revolução contínua, uma das revoluções mais importantes da História. Mas antes mesmo de estourar, os germes dessa revolução já existiam há muito tempo. Esses germes vieram do Protestantismo no século 16, desenvolvido nos dois séculos seguintes, explodindo no final do século 18. Esses germes contaminaram principalmente as classes sociais altas.
Por um lado, o século 18 atingiu um ponto alto em alguns aspectos da Civilização Cristã. Foi o século da elegância, distinção, bom gosto e boas maneiras; ostentava grandes escritores e artistas; alcançou uma esplendorosa vida na corte e aperfeiçoou a arte da conversação. Conseguir tudo isso foi, em muitos aspectos, uma obra de ascetismo, pois exigia uma preparação prévia extraordinária, disciplina e autodomínio; era também uma obra de caridade, porque o próximo era tratado com a maior consideração.
Por outro lado, no século 18, o abismo se alargou entre a sociedade mais distinta e a Igreja. Portanto, essas boas qualidades nascidas da Civilização Católica foram frequentemente corrompidas pela impiedade do século. Daí surgiram os paradoxos: o século da delicadeza foi por excelência o século de dureza de coração e egoísmo. O século da elegância foi também o século da suavidade e do sentimentalismo. Foi o século da distinção de costumes, mas também o século da sensualidade. Naquele século, tanto as boas qualidades quanto os vícios da Europa chegaram ao apogeu. Naturalmente, os vícios superaram as qualidades, e tivemos a Revolução Francesa.
As tendências revolucionárias promovidas pelas Forças Secretas visavam principalmente as classes mais altas da sociedade, ou seja, o clero, a nobreza e a alta burguesia. É doloroso dizer, mas o clero foi tão influenciado pelo Iluminismo que não era raro encontrar padres e Bispos abertamente ateus e libertinos. Eram pessoas que recebiam benefícios e títulos eclesiásticos por serem prestigiosos e lucrativos. Depois de recebê-los, eles continuaram a levar uma vida mundana e depravada. Os conventos eram um pouco mais morais do que os mosteiros, mas mesmo alguns dos primeiros também eram liberais. Alguns desses conventos tornaram-se uma espécie de hotel para mulheres nobres que não se casaram. Famílias nobres com vários filhos muitas vezes não tinham os meios financeiros para sustentá-los todos, então eles pressionaram as filhas solteiras a entrar nos conventos. Assim, muitos conventos estavam cheios de pessoas sem vocação religiosa que recebiam todo tipo de visitas mundanas.
A nobreza ainda manteve sua antiga coragem. Eles eram lutadores muito bons. Eram cavalheiros brilhantes, mas profundamente alienados da prática da religião e dados à sensualidade e às intrigas da corte. As senhoras seguiram o mesmo caminho.
A alta e rica burguesia tentou imitar a nobreza. Eles estavam sempre procurando casamentos com nobres empobrecidos para elevar sua posição social. A burguesia, que era muito moralista no século 17, também foi contaminada pelos defeitos da nobreza do século 18.
Mas os pequenos, os simples trabalhadores manuais e camponeses, ainda estavam preservados em sua moral. Seu meio não foi penetrado pelo Iluminismo do século 18. Naquela época, não existiam as grandes cidades que temos hoje. Paris, se não me engano, tinha cerca de 300.000 habitantes e era talvez a maior cidade do Ocidente. Roma era menor e Nápoles, a capital do Reino das Duas Cecílias, era ainda menor. O Bem-aventurado Ângelo de Acri exerceu o seu apostolado na Calábria e na Sicília, partes do Reino das Duas Sicílias. Na época, a maioria da população vivia em pequenas cidades ou no campo e estava muito preservada.
O antigo mosteiro dos Capuchinhos em Acri.
Abaixo, a cidade de Acri
e a Basílica a ele dedicada no século 19
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Para a causa da Contra-Revolução, era muito importante trabalhar com os pequenos para mantê-los praticando a Fé e longe dos erros das elites. Para tanto, Deus fez uso de uma antiga ordem do século 18, a Ordem dos Frades Capuchinhos.
Os Capuchinhos eram o ramo mais severo da família franciscana. Seus pregadores eram missionários que trabalhavam com o povo da aldeia. Portanto, eles falaram de forma simples e clara. Eles costumavam dizer toda a verdade ao povo, sem disfarçar suas palavras em linguagem ornamentada. Foram chamados a representar as virtudes que o século negou: simplicidade, honestidade, franqueza, coragem para se opor à moda e à opinião pública. Com efeito, a Ordem Capuchinha brilhou no século 18 por essas qualidades e ajudou a impedir que as classes populares aderissem à Revolução.
Os senhores ouviram que o Bem-aventurado Ângelo, que também era um homem do povo, tentou fazer um sermão grandioso e complicado. Mas a Providência Divina deu-lhe uma lição. Seu sermão bem preparado foi um fracasso total. Depois que ele rezou, Deus disse a ele o que ele deveria fazer. Deus não queria sermões elaborados e floreados, mas sermões simples dizendo exatamente o que deveria ser dito. Disse ao Bem-aventurado Ângelo que se dirigisse ao povo e dissesse coisas que eles pudessem seguir, isto é, com base mais na piedade do que em raciocínios complexos. Deus tornou fecundo o apostolado do Bem-aventurado Ângelo e muitas conversões foram operadas por meio dele. Essas conversões provavelmente vieram mais do exemplo de sua santidade do que de seus argumentos.
Deus também lhe deu o dom dos milagres, e ele fez milagres extraordinários. O mundo considera um grande milagre - e com razão - que os Judeus tenham cruzado o Mar Vermelho sem molhar os pés. Aqui os senhores veem que o Bem-aventurado Ângelo cruzou rios, torrentes e riachos muitas vezes sem se molhar. Os senhores podem imaginar a impressão que isso causou nas pessoas pequenas das vilas e cidades. Eles não entendiam muito bem seus argumentos apologéticos, mas ao vê-lo atravessar o rio sem se molhar, aplaudiam e gritavam de admiração: “Deus está entre nós!” Então, várias conversões aconteceriam.
Outras vezes, ele viajava distâncias enormes em estradas difíceis em um curto período de tempo. Ou seja, ele foi transportado de alguma forma milagrosa, provavelmente pela ação de Anjos. Os pequeninos sabiam que nenhum homem a pé ou a cavalo poderia fazer aquela viagem em tal tempo. Novamente, eles ficaram fortemente impressionados e a palavra de sua santidade se espalhou. Seu prestígio cresceu e as conversões se seguiram.
As sandálias e o cinto, acima, usados pelo Frade Capuchinho, estão preservados em um museu de sua aldeia
A disciplina do Bem-aventurado Ângelo de Acri
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Imaginem o homem com seu hábito simples de Capuchinho, que representa sua falta de pretensão terrestre; no cinto em volta da cintura estava o rosário com uma pequena caveira para indicar que o Capuchinho deve ter sempre a morte diante dos olhos; nos pés, as sandálias simples e gastas. Sua vida obedeceu à severa regra capuchinha que exige jejum e mortificações. Tinha barba comprida e tonsura, ambas consideradas ridículas pelos homens sofisticados do século 18.
Este frade despretensioso entra em uma cidade para pregar uma missão. As pessoas se reúnem em uma pequena igreja no topo de uma montanha em um vilarejo da Calábria ou da Sicília. A Missa está sendo celebrada; há um belo canto. Depois, no Evangelho, Frei Ângelo sobe ao púlpito. Antes de chegar ao topo da escada, ele se ajoelha e reza a Deus para iluminá-lo. Então ele se levanta sem ar e começa a falar.
Suas palavras, diz a seleção, tinham a linguagem forte e viril que caracterizava os Capuchinhos, ou seja, eles não pregavam somente sobre o bem, mas atacavam o mal: o mal que estava se infiltrando nos costumes dos pequenos. Às vezes, eles paravam no meio de um sermão e diziam: “Você aí, minha senhora, a senhora não deve usar esse tipo de vestido que mostra tanto o seu pescoço. Não percebe que isso é uma ofensa a Deus?” Ou, por uma graça especial de Deus, eles liam os pensamentos de uma pessoa na audiência e diziam: “Você, Sr. X, você está pensando isso e aquilo, mas você está errado, porque é contra a vontade de Deus. Você não pode esconder nada de Deus, que está me mostrando seus pensamentos até agora.”
Depois de ter atacado os defeitos dos ouvintes, então uma segunda parte do sermão se seguiria onde eles descreveriam a misericórdia de Deus, como Ele é bom e tem compaixão de nós. “Não se desespere, mas confie n’Ele pela intercessão de Nossa Senhora.” Essa era a grande tradição dos sermões Capuchinhos.
Os senhores podem imaginar o impacto desse tipo de sermão sobre o vivaz povo do sul da Itália: Grande contrição, lágrimas, confissões, penitências e absolvições. Depois de três ou quatro dias de um pregador Capuchinho dando uma missão em uma aldeia, a paróquia foi regenerada. Por meses ou mesmo anos, essas palavras seriam lembradas. O povo também contaria os milagres do Bem-aventurado Ângelo. Um homem debilitado desde menino foi abençoado por Frei Ângelo e foi curado. Hoje ele é um homem forte, capaz de trabalhos pesados. Outro homem havia sido um marido ruim por muito tempo, mas o Bem-aventurado Ângelo falou com ele e, a partir daí, ele se tornou um marido e pai exemplar. A presença do Capuchinho permaneceu no local por muito tempo, como um perfume, muitas vezes por toda uma geração.
O corpo incorrupto do Bem-aventurado Ângelo é venerado na Basílica
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O resultado foi que, entre o povo do sul da Itália nasceu um valoroso movimento contra-revolucionário, os Sanfedistas. O nome vem do título, "Defensores da Santa Fede (Santa Fé)." Este movimento lutou contra a Revolução até recentemente. Foi na Itália o que o movimento da Vendéia, dos Vendeanos, foi na França. Representa a verdadeira direita na Itália. A verdadeira direita não é o fascismo; este é a falsa direita. A verdadeira direita é representada pelos Sanfedistas. Os sermões e a santidade de homens como o Bem-aventurado Ângelo de Acri foram os que produziram esse movimento, como o apostolado de São Luís Grignion de Monfort produziu a Contra-Revolução da Vendéia.
Devemos tomar como modelos o exemplo do Bem-aventurado Ângelo de Acri e a grande tradição Capuchinha, para que tenhamos a coragem de enfrentar e combater as ideias e modas revolucionárias do nosso século. Devemos pedir ao Bem-aventurado Ângelo que nos ajude a dizer o que deve ser dito para a glória de Deus e a exaltação da Santa Madre Igreja, e para sermos o oposto da Revolução em nossos maneiras e modos de viver.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | |
A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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