Sim, por favor
Não, obrigado
Sociedade Orgânica
donate Books CDs HOME updates search contact

Regionalismo, tradição e bom gosto

Plinio Corrêa de Oliveira
Em matéria de arte, deve-se evitar dois extremos igualmente errados. Um é o cosmopolitismo, que visa constituir para o mundo inteiro uma só arte, sem considerar as características próprias a cada povo e a cada região. O outro é o jacobinismo, que rejeita qualquer influência alienígena, mesmo nos casos em que esta é legitima e necessária, para se encerrar no âmbito puramente nacional.

A tendência cosmopolita se observa muito nítida, na construção dos mamutes de cimento e ferro que certa arte vai levantando com desoladora uniformidade na Pérsia como na Suíça, na Rodésia como no Brasil, no Japão, como na França, e nos quais instala indiferentemente bancos, prisões, bolsas de mercadorias, templos ou teatros.

A tendência jacobina, no Brasil pelo menos, se revela na ideia de que a arte nacional só é típica quando se inspira em motivos tirados das produções aliás interessantes dos índios e dos negros, quando prolonga - de modo inteiramente artificial, seja dito de passagem - a vida de superstições e costumes que entre uns e outros vão lentamente morrendo.

Na realidade, o fato que domina a história cultural da América é a vinda do europeu, que trazia consigo séculos de uma civilização batizada e gloriosa, e entendia continuá-la, inteligentemente adaptada e aclimatada, em nosso continente.

Contato que não era apenas de um homem, mas de todo um ambiente secularmente penetrado de bom senso, a inspiração europeia foi sendo trabalhada para dar origem aos diversos regionalismos. E nasceu assim um estilo colonial norte-americano, nitidamente regional, se bem que rico de todos os sucos da cultura inglesa, como surgiu um estilo colonial brasileiro, cheio de magnífica seiva lusa, mas profundamente adaptado ao nosso temperamento e às coisas do Brasil.


 Elisha Sheldon house

A imagem acima representa uma bela e harmoniosa construção norte-americana trabalhada pelos séculos. Pertence ela ao chamado estilo colonial posterior, e foi edificada por Elisha Sheldon em 1760. Tinha uma aparência externa mais simples. Washington nela passou uma noite, e a cama de que se serviu ainda está em uso.

Em 1800, foi embelezada por William Spatt, com alguns elementos decorativos em uso nas construções norte-americanas do tempo, isto é, a colunata da entrada, a janela que lhe é superior, e as cornijas no alto das janelas.

E assim tomou aspecto definitivo esta vivenda confortável, espaçosa, digna, e rica em louçania, toda feita para uma vida de família estável, tranquila e temperante, marcada ao mesmo tempo por uma influência inglesa visível, e pelo cunho regionalista discreto que lhe dá a sua verdadeira graça.


Town Hall and Jail of Mariana, in the State of Minas Gerais, Brazil

Quem não pode notar a força, a estabilidade e a lógica inspiradas pelos portugueses no edifício nesta segunda foto acima? O edifício, que é a Câmara Municipal e antiga cadeia na cidade de Mariana, Estado de Minas Gerais, Brasil, é marcado pelo bom senso, equilíbrio e graça. Entretanto, quem não notará nela a marca brasileira, expressa na simplicidade, numa certa fisionomia de casa de família, numa especial bonomia sem vulgaridade aliás, que distingue tudo quanto é autenticamente brasileiro.

Estilos bem diversos entre si, um nascido na Inglaterra e prosperando no setentrião americano, outro nascido de Portugal e florescendo na doçura do clima brasileiro, sabiamente construídos sobre uma posição de equilíbrio entre o cosmopolitismo e o jacobinismo.

Estilos que, sobretudo no Brasil, influenciado pelo amor que a Igreja tem a todas as raças, souberam compor um ambiente harmonioso com os elementos pitorescos de origem africana ou indígena, sem os guerrear, sem os destruir, entrelaçando-se até com eles para fazer uma bela guirlanda de culturas, mas sem adorá-los, nem se aniquilar diante deles.

Obra cultural complexa, sensata, robusta, produto de gerações inteiras de homens de bom senso e bom gosto - no caso do Brasil, de homens gozando do dom dos dons que é a verdadeira Fé - que nos importa preservar do cosmopolitismo iconoclasta dos dias que correm.


Catolicismo n. 49 - Janeiro de 1955
Postado em 26 de abril de 2019

Tópicos relacionados de interesse

Trabalhos relacionados de interesse


A_Offend1.gif - 23346 Bytes Animus Injuriandi II
A_ad1.gif - 32802 Bytes A_ad2.gif - 31352 Bytes A_ff.gif - 33047 Bytes
A_ecclesia.gif - 33192 Bytes A_hp.gif - 30629 Bytes destructio