Questões Socio-políticas
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Paternalismo medieval e
neo-escravidão progressista


Plinio Corrêa de Oliveira

“Se bem que continue preeminente e absoluto o interesse e a tendência à máxima produtividade, a propriedade deixou de ser a projeção do indivíduo, uma espécie de suporte necessário de sua individualidade no mundo das coisas, para se tornar – eis o que particularmente os cristãos deveriam ter presente – uma condicionadora, em sentido negativo, da individualidade. Pode-se de fato afirmar, como o fizeram autorizados juristas de inspiração certamente não anticristã, que hoje não é mais o proprietário que possui a propriedade, mas, pelo contrário, a propriedade é que possui o proprietário.”

Quem professa essa estranha opinião reduz o homem, não mais a assalariado, nem mesmo a escravo de outro homem, mas a escravo de um sistema de produção burocrático e mecânico, dotado de um poder análogo ao poder do dono sobre a coisa.

A medieval guild
“Consideremos o campo do direito penal: assiste-se hoje, de uma parte, a uma profunda transformação no modo de avaliar a gravidade de certas infrações, e de outra, a uma crescente dilatação, que pode parecer censurável, das hipóteses delituosas por comportamentos considerados outrora penalmente irrelevantes.

“As responsabilidades mais graves já não são as que se referem a atentados contra o indivíduo, contra o patrimônio, mas as que de qualquer maneira põem em causa valores sociais. Em consequência, se discerne a necessidade de sancionar penalmente todo comportamento que se manifesta, não tanto como atentado contra o indivíduo ou a ordem social entendida na velha acepção de ausência de choques entre indivíduos, mas como atentado à prossecução daquele finalismo que agora passou do indivíduo e da sociedade para o Estado. Todo crime, com efeito, é crime enquanto é crime político.”


Quem pensa desta maneira considera que os indivíduos não têm direitos próprios, e que o Estado é o único titular de todos os direitos...

A medieval printing guilds
“A saúde física do homem... não é mais um mero bem personalíssimo do indivíduo, mas é um bem da coletividade, tanto que sua tutela é garantida pela Constituição.”

Na perspectiva dos textos anteriores, bem se vê aonde isto pode conduzir, pois, se o indivíduo não tem direitos, esse direito do Estado sobre a saúde de cada qual prima absolutamente sobre qualquer sombra de direito do indivíduo à sua própria saúde.

Em conseqüência, este princípio pode levar rápida e diretamente à escravidão.

Quem sustenta todas essas opiniões tão terrivelmente impregnadas de espírito escravocrático? Algum fanático da monarquia despótica em uso outrora no Oriente? Algum senhor feudal cruel e sem entranhas, como no-lo pintam os contos da carochinha enxertados em certa historiografia muito em voga?

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Não, é um “católico-progressista,” desses que em geral vivem a invectivar — tratando-as de tirânicas — as melhores e mais perenes tradições cristãs da Idade Média. É o Sr. Gian Paolo Meucci, magistrado e assistente de Direito Constitucional na Universidade de Florença, que colabora em jornais e revistas como Il Popolo, L'Italia e Testimonianze. O Prof. Meucci escreveu o capítulo "Verso lo Stato di domani" no contestadíssimo livro “Il Dialogo alla Prova” (a cura di Mario Gozzini – Mezzo Secolo, Vallecchi Editore, Florença, 1964), no qual colaboram católicos e comunistas italianos.

Assim tantos e tantos progressistas, clamando contra o que denominam de paternalismo medieval, considerado por eles um regime incompatível com a dignidade humana, acabam por levar sua idolatria do Estado a ponto de pleitear o restabelecimento da escravidão típica dos povos anteriores a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Quanto a esse paternalismo na Idade Média, eis o que diz Leão XIII no que toca aos trabalhadores da indústria e do comércio:

A medieval guild
“A história atesta os excelentes resultados alcançados pelas corporações dos trabalhadores do passado. Eles eram o meio de oferecer, não apenas muitas vantagens aos operários, mas também promover o avanço da arte, já que numerosos monumentos permanecem para dar testemunho.

“Tais associações devem ser adaptadas às exigências da época em que vivemos – uma era de maior educação, de diferentes costumes e de exigências muito mais numerosas na vida cotidiana. É gratificante ver que, em toda parte, associações dessa natureza estão sendo formadas hoje, sejam aquelas compostas apenas por trabalhadores ou por empregados e empregadores juntos: Nós desejamos muito que eles se tornem mais numerosos e mais eficientes. Embora tenhamos falado deles mais de uma vez, queremos explicar aqui o quanto eles são necessários, o seu direito de existir, bem como indicar o que deve ser sua organização e seu programa de ação” (Encíclica Rerum Novarum).

Como se vê, o grande Pontífice considerava deverem as corporações medievais permanecer até nossos dias, feitas embora as necessárias modificações.

Sentimo-nos muito melhor na companhia do grande Papa no elogio a esses organismos medievais, garantia dos direitos dos patrões e dos empregados, do que na sequela dos advogados neoescravagistas do estatismo contemporâneo.

notre dame window depicting guild

Vitrais em Notre Dame de Paris representando diferentes guildas



Catolicismo
n. 177, Setembro de 1965
Postado em 11 de abril de 2019

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