Se o Sul dos Estados Unidos não tivesse sido praticamente destruído após a Guerra Civil, se aquelas tradições orgânicas do Sul tivessem continuado, elas poderiam ter se tornado fortes e boas características regionais.
A cultura do Sul antes da Guerra favoreceu valores sobre a riqueza |
Por quê? Porque o Sul antes da Guerra era uma sociedade baseada mais no valor do prestígio do que no dinheiro. As pessoas de sociedade também tinham uma certa quantia de dinheiro, mas o prestígio delas não provinha do dinheiro. Sua riqueza era um elemento complementar para apoiar seu prestígio.
Isso é algo como a magnificência do Vaticano. O prestígio do Papa não vem da magnificência do Vaticano. Vem da missão espiritual do Papa. No entanto, é conveniente para o exercício de sua missão ter uma certa magnificência; enquadra sua missão com prestígio e torna mais fácil para ele exercer seu dever.
Agora, se um país como os Estados Unidos tivesse elites, se a mentalidade revolucionária não tivesse elevado o igualitarismo ao pedestal mais alto, se o dinheiro não tivesse adquirido o papel central na mentalidade americana, se o país não tivesse experimentado uma imigração tão eclética de pessoas de todo o mundo, então os Estados Unidos poderiam ter tido uma fundação e uma sociedade mais orgânicas do que têm.
Antagonismo entre prestígio e dinheiro
Tais problemas são muito fáceis de descrever, mas quais são as soluções para eles?
Acredito que esses problemas e suas soluções podem ser apresentados como um antagonismo entre a supremacia do prestígio e do dinheiro. Diante de duas diferentes mentalidades existem dois tipos de sociedades: uma dá prioridade ao prestígio; outro dá precedência ao dinheiro.
Estudantes de diferentes nações saúdam respeitosamente o reitor da Universidade de Praga |
O prestígio é um valor moral que conta com o reconhecimento por uma determinada sociedade do bem realizado por uma pessoa, família, classe ou setor da sociedade. Tomemos, como ilustração deste ponto, um corpo de professores em uma universidade. Em cidades como Louvain, Paris, Bolonha ou Heidelberg, o professor costumava gozar de enorme prestígio. Essas cidades tinham universidades que eram famosas e atraíam estudantes dos quatro cantos do mundo.
Os professores tinham roupas especiais para os distinguir. As pessoas da cidade os estimavam porque admiravam o valor da inteligência e da cultura. Quando um professor ministrava uma aula particularmente brilhante, os alunos o seguiam pela cidade até chegar à casa dele, aplaudindo-o e prestando-lhe homenagem. Às vezes, eles jogavam suas capas no chão para o professor pisar como se fossem tapetes. O professor tinha o título de Mestre e era respeitado por toda a cidade.
Vamos supor que naquela mesma cidade houvesse alguns banqueiros muito ricos. As pessoas deveriam admirar mais os banqueiros do que os professores?
Quando uma sociedade tem princípios fortes, ideais nobres e altos valores morais, o prestígio tem precedência sobre o dinheiro. Ele leva mais pessoas à admiração do que o dinheiro. Quando a decadência moral se instala, o dinheiro se torna mais valioso do que o prestígio. Então, aquele que tem dinheiro e pode fazer coisas práticas torna-se mais importante do que aquele que tem conhecimento, respeitabilidade e honras. Os padrões quebram e mudam. Para todos os efeitos práticos, o homem economicamente poderoso parece ser aquele que pode fazer tudo, enquanto o homem de prestígio pode fazer muito pouco.
Em uma sociedade com uma forte estrutura de valores morais, a classe nobre normalmente tem muito mais autoridade e poder de decisão sobre assuntos públicos do que a classe financeira. Mas se a sociedade é fraca em suas convicções, sem ideais e voltada para as coisas práticas, então o dinheiro e a propaganda a ele correlata são mais valorizados do que prestígio. Quando isso acontece, tudo desce.
Acredito que ou os homens terão um alto padrão moral inspirado por um bom clero – o sal da terra e a luz do mundo – e o prestígio reinará ou, se isso estiver faltando, o dinheiro reinará. Neste caso, a sociedade orgânica terá começado a morrer.
Prestígio pode restaurar a sociedade revolucionária
Para restaurar uma sociedade como aquela em que vivemos, que abandonou os padrões morais de Nosso Senhor Jesus Cristo, é necessário o consenso de todos. Para usar uma frase moderna de que não gosto, mas que expressa uma parte da realidade, o mundo se tornou uma aldeia. Todo mundo sabe o que está acontecendo em todos os lugares. Então, ou todos se voltam resolutamente para uma posição diferente como um conjunto ou nada vai adiante.
Uma sociedade com todas as coisas restauradas em Cristo |
Neste ponto, alguém poderia objetar: A ideia de que homens em todo o mundo poderiam alcançar um alto nível de moralidade para construir outra sociedade simplesmente não é viável. Portanto, o senhor está apresentando como ideal algo impossível.
Eu responderia: sim, falando naturalmente, seria muito difícil, talvez até impossível. Mas, estamos trabalhando com a possibilidade de um grande castigo que virá, como previsto em Fátima, para restaurar a humanidade no caminho certo. Assim, em um determinado momento, uma grande crise natural-sobrenatural ocorrerá e fará com que a humanidade reconsidere os padrões atuais que escolheu. Devemos estar prontos para enviar nossa mensagem quando este momento chegar.
O fato de estarmos estudando como a sociedade orgânica do passado foi construída e como reconstruir outra no futuro, parece-me que essa ação do conjunto deve ser considerada. Caso contrário, quando a sociedade for restaurada, não saberemos como mantê-la no caminho certo e fazer tudo para evitar uma nova decadência.
Costumes e tecnologia
Supondo, então, que o conjunto de uma sociedade restaurada experimenta um progresso material com suas consequências sociais, como deve ele ser adequadamente orientado? A influência da Igreja na Idade Média nos mostra que, quando uma psicologia coletiva é formada de acordo com as quatro virtudes cardeais (justiça, prudência, fortaleza e temperança), os problemas concretos não são resolvidos pelos tecnocratas, mas pelos costumes orgânicos.
Janela do século 13 na Catedral de St. Etienne em Bourges |
Por exemplo, vamos considerar o artesanato dos vitrais. Quando a sociedade medieval progrediu ao ponto de os homens construírem catedrais, os artesãos começaram a estudar a melhor maneira de pintar o vidro e colocá-lo nos arcos das igrejas. Estes foram problemas concretos enfrentados pelos artesãos daquele ofício particular.
Eles não resolveram o problema decidindo formar uma comissão de técnicos, mas mediante a prática, por tentativa e erro: pequenos sucessos aqui, soluções parciais ali, algumas falhas lá. Durante todo aquele tempo, a troca natural de experiências e opiniões moldou uma prática que se tornou um costume que, por sua vez, levou aos brilhantes resultados dos vitrais medievais. Até hoje eles despertam a admiração de qualquer pessoa com um pouco de cultura. As soluções que vêm dos costumes são muito mais ricas e cheias de vida do que as obtidas por comitês de técnicos.
A técnica, acredito, é muito menos inteligente e ágil do que o costume para resolver problemas. Porém, para o costume poder dar os bons resultados que ele deu com os vitrais coloridos, ele deve ser praticado por pessoas virtuosas, por pessoas que tenham como ideal a glória de Deus.
Com isso, podemos entender o princípio de que os ideais morais e a virtude devem governar a sociedade, não a técnica ou o dinheiro.
Postado em 1 de julho de 2019
  | | Prof. Plinio |
Sociedade Orgânica foi um tema caro ao falecido Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Ele abordou este tema em inúmeras ocasiões durante a sua vida - às vezes em palestras para a formação de seus discípulos, às vezes em reuniões com amigos que se reuniram para estudar os aspectos sociais e história da cristandade, às vezes apenas de passagem.
Atila S. Guimarães selecionou trechos dessas palestras e conversas a partir das transcrições das fitas e de suas anotações pessoais. Ele traduziu e adaptou-os em artigos para o site da TIA. Nestes textos, a fidelidade às idéias e palavras originais é mantida o máximo possível.
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